
A transferência das vendedoras de peixe do mercado da Mabunda para a Praia Amélia, em Luanda, tem enfrentado forte resistência. Cerca de 700 vendedoras recusam-se a abandonar o antigo local, citando falta de segurança, insuficiência de espaço e dificuldades operacionais como principais razões para manterem as suas atividades na Mabunda.
Embora reconheçam que o novo mercado da Praia Amélia possui melhores condições sanitárias, as comerciantes queixam-se da ausência de “processo” (locais adequados para armazenar os produtos) e da distância entre o mercado e os seus fornecedores. Relatam ainda casos de insegurança, incluindo assaltos violentos, mesmo com a presença de uma esquadra móvel da Polícia Nacional nas proximidades.
“Corremos riscos sérios”, afirmou uma das vendedoras, referindo-se aos frequentes assaltos. No dia 26 de abril, quatro vendedoras (Teodora do Carmo, Jéssica Rodrigues, Ana Maria e Miria Catari) foram roubadas por um grupo de jovens que lhes retirou 7 mil Kz sob ameaça de faca.
O novo mercado conta com 600 bancadas para peixe, 51 pontos de água, quatro contentores de lixo e 14 casas de banho. No entanto, as vendedoras afirmam que o espaço é insuficiente para todas e que os custos operacionais aumentaram. “Gastamos 2.500 Kz por dia para transportar os produtos e muitos de nós não temos como pagar”, queixou-se uma comerciante.
Outro ponto de discórdia é o custo das bancadas. O Governo Provincial de Luanda (GPL) disponibilizou bancadas a 10 mil Kz cada, mas muitas vendedoras consideram o valor elevado e desnecessário, já que o mercado é provisório. O GPL, por sua vez, afirma que as vendedoras são livres para utilizar suas próprias bancas.
Enquanto isso, as vendedoras que optaram por permanecer na Mabunda desafiam as autoridades, mesmo sob risco de contágio de cólera. “Acreditamos que Deus nos protege”, disseram. Jovens que continuam a escamar peixe na área mostraram-se hostis com a reportagem, afirmando que não abandonarão o local, pois é dali que garantem o seu sustento.
O mercado da Mabunda foi oficialmente encerrado em 28 de fevereiro de 2025 como medida de prevenção contra o surto de cólera que afeta Luanda e outras províncias, com 18.420 casos e 586 óbitos registados até 7 de maio, segundo o Ministério da Saúde.