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Alguns analistas políticos acreditam que Donald Trump não esqueceu o papel de Volodymyr Zelensky em sua derrota para Joe Biden nas eleições de 2020. Na época, Trump e sua equipe acusavam Biden de manter negócios obscuros com um oligarca pró-Rússia na Ucrânia e esperavam que uma investigação conduzida por Zelensky enfraquecesse a candidatura do democrata. No entanto, o líder ucraniano recusou-se a atender ao pedido, frustrando as intenções de Trump.
O ex-presidente americano, conhecido por seu estilo direto e explosivo, não mede palavras para atacar Zelensky. Chamou-o de “ditador”, questionou a ausência de eleições na Ucrânia e o tratou como uma figura irrelevante nas negociações para o fim da guerra. Essas declarações marcam um novo capítulo nas relações entre os EUA e a Ucrânia, que antes contavam com forte apoio de Washington contra a Rússia.
A guerra na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, um período em que Angola se preparava para suas eleições gerais e o governo Talibã no Afeganistão completava um ano no poder sem reconhecimento internacional. Quando a Rússia bombardeou Kiev e ameaçou tomar a capital, o mundo ficou em alerta.
Na ocasião, a administração de Joe Biden ofereceu-se para retirar Zelensky do país e garantir sua segurança em Washington. O presidente ucraniano, no entanto, recusou, afirmando que não precisava de uma “carona”, mas sim de “armas” para enfrentar a invasão russa. O pedido foi atendido, e os EUA, juntamente com a União Europeia, passaram a enviar bilhões de dólares em ajuda militar e humanitária para a Ucrânia.
O apoio ao governo de Zelensky tornou-se um dos pilares da defesa da democracia no Ocidente, mas trouxe enormes sacrifícios aos países europeus, que, ao aplicarem sanções à Rússia, viram suas economias afetadas. Mesmo com custos elevados para os contribuintes, EUA e Europa mantiveram o suporte à Ucrânia e, em alguns casos, chegaram a coordenar ações militares ao lado do exército ucraniano.
Porém, com a volta de Trump ao poder após vencer as eleições de novembro de 2024, a dinâmica mudou completamente. O novo governo americano passou a demonstrar mais proximidade com Vladimir Putin, enfraquecendo a aliança com a Europa e priorizando os interesses estratégicos dos EUA.
Para alguns analistas, Trump não esqueceu o quanto a maioria dos governos europeus desejava a vitória de Biden em 2020 e, principalmente, o papel de Zelensky no desfecho daquela eleição.
Durante a campanha de 2020, a equipe de Trump alegava que Hunter Biden, filho de Joe Biden, possuía negócios suspeitos com um oligarca ucraniano no período em que seu pai era vice-presidente dos EUA, durante o governo de Barack Obama. Com isso, pressionaram Zelensky a abrir uma investigação que poderia prejudicar Biden eleitoralmente, mas o líder ucraniano se recusou.
O caso resultou no primeiro impeachment de Trump, iniciado pelos democratas no Congresso americano. O então presidente negou ter cometido qualquer irregularidade, mas admitiu que entrou em contato com Zelensky.
Trump acabou derrotado por Biden nas urnas em 2020, mas nunca aceitou o resultado, chegando a incentivar seus apoiadores a invadir o Capitólio dos EUA, em um episódio que entrou para a história como um dos momentos mais tensos da democracia americana.
Agora, com sua volta ao poder, a mudança drástica na política externa dos EUA indica que o ressentimento de Trump contra Zelensky pode estar influenciando sua postura em relação à guerra na Ucrânia e às alianças tradicionais do Ocidente.