
Donald Trump, que durante meses se apresentou como o homem que “teria impedido a guerra” entre a Rússia e a Ucrânia, está agora a dar sinais claros de alinhamento com Kiev — uma mudança de posição que está a gerar inquietação em Moscovo e, sobretudo, a aumentar a tensão num palco já incendiário. A aproximação inesperada a Volodymyr Zelensky, após um acordo estratégico sobre terras raras, surge num momento particularmente delicado: a poucos dias das comemorações russas do 9 de Maio, um gesto provocador pode precipitar um conflito de proporções impensáveis.
Na mais recente entrevista à NBC, o ex-presidente norte-americano deixou cair qualquer ambiguidade e assumiu que, sim, esta é também a sua guerra. Alegou ter agora uma melhor relação com Zelensky e prometeu revelar, em breve, quem está, na sua óptica, a boicotar os esforços de paz. De forma implícita, mas cada vez mais clara, Trump identificou Vladimir Putin como o principal obstáculo para o fim das hostilidades. Dias antes, em declarações à CBS, admitiu estar convencido de que o presidente russo “não quer a paz” e apenas arrasta negociações para consolidar os seus ganhos territoriais.
O gesto de Trump é, contudo, lido por alguns analistas como uma tentativa de marcar pontos rápidos na sua política externa, visando recuperar prestígio perdido durante os primeiros cem dias de regresso à Casa Branca. Mas esse reposicionamento não foi gratuito: no acordo com Kiev, os ucranianos conseguiram vantagens substanciais na área das terras raras, ao passo que Washington, segundo fontes próximas do processo, obteve pouco do que pretendia.
Neste contexto, a Rússia reagiu com ameaças veladas. No documentário transmitido pela Rossiya-1, Vladimir Putin afirmou que espera não ter de recorrer a armas nucleares para vencer na Ucrânia. Mas deixou claro: se a NATO intervier directamente ou se a Rússia sentir que está diante de uma ameaça existencial — como um ataque durante as comemorações do 9 de Maio, com a presença de Xi Jinping e outros líderes mundiais —, a resposta poderá ser devastadora.
A tensão cresceu ainda mais com uma imagem divulgada por Andrii Yermak, assessor próximo de Zelensky, mostrando o Kremlin em chamas. A insinuação provocou indignação no Kremlin e levou Dmitry Medvedev a alertar que, caso haja um ataque real às festividades, “poderá não haver Kiev no dia seguinte”.
Zelensky, por seu lado, já aconselhou publicamente os líderes mundiais a não comparecerem nas cerimónias em Moscovo, alegando não poder garantir a sua segurança — uma declaração que Moscovo classifica como “terrorismo psicológico”. A porta-voz do MNE russo, Maria Zakharova, acusou o presidente ucraniano de manipular a narrativa da paz para extrair fundos dos aliados ocidentais.
Apesar de Putin ter declarado um cessar-fogo unilateral de três dias, entre 08 e 10 de Maio, como gesto simbólico para as celebrações da vitória sobre o nazismo, Zelensky rejeitou a proposta e sugeriu um cessar-fogo de um mês — o que foi de pronto recusado por Moscovo, temendo que servisse de pretexto para reorganização militar ucraniana.
À medida que o relógio avança para o 09 de Maio, o risco de um erro de cálculo — ou de um gesto politicamente mal medido — pode incendiar ainda mais o conflito. A pergunta que se impõe nos bastidores diplomáticos é clara: estará o novo posicionamento de Trump a ajudar a Ucrânia, ou a empurrar o mundo para um confronto directo com consequências imprevisíveis?