
Em Luanda, dezenas de trabalhadores da Cidade da China enfrentam uma dura realidade: a necessidade de dormir nas ruas em frente ao local de trabalho devido aos baixos salários e à falta de opções de transporte. A maioria desses funcionários, que inclui jovens pedreiros, ajudantes de limpeza e atendentes de loja, relata que o que ganham não é suficiente para alimentar suas famílias e arcar com os custos diários de deslocamento.
A situação se agrava pela resposta indiferente de seus empregadores, que afirmam: “quem quer fica, quem não quer, vai embora.” Com essa perspectiva, a maioria dos trabalhadores acaba por permanecer em condições precárias. Os relatos indicam que as distâncias entre suas residências e a Cidade da China, combinadas com horários de trabalho exigentes, forçam muitos a optar por pernoitar ao relento.
Damião Simão, um jovem de 29 anos que trabalha como ajudante de venda, expressa a realidade de muitos: “Ficamos aqui porque vivemos longe e com o que ganhamos não dá para ir e vir.” Os salários, que variam entre 50 mil e 80 mil kwanzas, tornam inviável qualquer alternativa que inclua o retorno para casa após o trabalho.
Além das dificuldades financeiras, muitos trabalhadores enfrentam práticas laborais que desrespeitam a legislação vigente. A falta de contratos formais, a ausência de folgas e a penalização por faltas, mesmo em casos de doença, são comuns. “Para os patrões chineses, o que conta é estares na hora de entrada, independentemente das circunstâncias”, afirmam alguns trabalhadores.
Após inspeções das autoridades que resultaram no fechamento de dormitórios improvisados, os funcionários foram forçados a dormir na rua, uma situação que, segundo eles, é pior do que as condições precárias oferecidas anteriormente. A proibição de pernoitar dentro da Cidade da China tem gerado um clima de insegurança e desconforto para esses trabalhadores, que agora se veem expostos ao frio e à insegurança da noite.
Apesar das adversidades, os trabalhadores se organizam para garantir alimentação, contando com vendedores ambulantes nas proximidades ou preparando suas próprias refeições em pequenos espaços ao redor. A Cidade da China, um dos maiores centros comerciais do país, inaugurado em 2017, abriga mais de 400 lojas, mas a realidade de seus trabalhadores levanta questões sérias sobre as condições laborais e a proteção dos direitos humanos na região.