A Rússia expressou hoje sua disposição para negociações de paz com a Ucrânia, baseando-se na “realidade atual no terreno”, e para dialogar com a futura administração norte-americana de Donald Trump, conforme declarou Gennady Gatilov, embaixador russo junto da ONU em Genebra. Em uma conferência de imprensa aos meios acreditados junto da ONU em Genebra, Suíça, Gatilov enfatizou que qualquer discussão de paz dependerá da Ucrânia deixar de ser um “instrumento nas mãos de outros países”.
Gatilov, que é ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, rejeitou o “plano de vitória” do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alegando que isso implicaria na “capitulação da Rússia”, algo que Moscovo considera inaceitável e não traria paz à Europa. Ele também advertiu que a possível utilização de mísseis de longo alcance pela Ucrânia, se fornecidos pelos países da NATO, resultaria em um “confronto aberto” entre a aliança militar ocidental e a Rússia.
O diplomata russo deixou claro que, em caso de uma ação agressiva da NATO ou de um de seus Estados-membros, a Rússia responderá em conformidade. Gatilov afirmou que os pedidos ucranianos por armas de longo alcance demonstram a intenção de Zelensky de estender o conflito e alcançar áreas mais distantes dentro da Rússia. Ele acrescentou que as forças armadas ucranianas não possuem capacidade para manusear essas armas sem a assistência ocidental.
Para a Rússia, a paz com a Ucrânia só será possível se o país adotar uma política de neutralidade e se desmilitarizar, embora isso não signifique o desmantelamento total de seu exército. “O problema é que este país tem uma atitude hostil em relação à Rússia e o que procuramos são relações amigáveis”, afirmou Gatilov. “Nosso objetivo é ter um país desmilitarizado na nossa fronteira, que não ameace nossos interesses nacionais e nossa segurança”, continuou.
O embaixador russo deixou claro que Moscovo não aceitará um cessar-fogo temporário destinado apenas a reabastecer a Ucrânia com mais munições. O objetivo, segundo ele, deve ser estabelecer condições favoráveis para o restabelecimento de relações de cooperação no futuro, apesar das dificuldades atuais.
Com o recente resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, que determinaram o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca, a Rússia declarou estar pronta para iniciar um diálogo “baseado no seu interesse nacional” com a futura administração norte-americana. Gatilov afirmou que esse contato esteve ausente durante o mandato do Presidente democrata Joe Biden. No entanto, ele advertiu que o governo do Presidente russo Vladimir Putin “não tem ilusões” sobre uma mudança radical na política norte-americana em relação à Rússia.
Trump havia prometido resolver o conflito com a Ucrânia rapidamente, uma perspectiva que Gatilov considera irrealista, embora tenha reconhecido que qualquer proposta do futuro presidente para iniciar um processo político seria bem-vinda.
Desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia tem recebido apoio financeiro e militar dos aliados ocidentais. Esses aliados também impuseram sanções a setores-chave da economia russa na tentativa de reduzir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.