
A crise no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) continua a intensificar-se, com o governo do Ruanda a reafirmar a sua posição e a minimizar o impacto das sanções internacionais. O ministro dos Negócios Estrangeiros ruandês, Olivier Nduhungirehe, garantiu que nenhuma pressão externa impedirá o país de proteger as suas fronteiras.
“Qualquer conversa sobre sanções ou medidas punitivas não nos dissuadirá de garantir a segurança do nosso território e do nosso povo. Estamos a enfrentar uma ameaça existencial de uma força genocida”, afirmou Nduhungirehe, em declarações à Associação dos Correspondentes da ONU (ACANU).
As tensões aumentaram depois de o grupo rebelde M23, ativo no leste da RDCongo, ter capturado as cidades estratégicas de Goma e Bukavu. A ofensiva resultou numa resposta diplomática firme da comunidade internacional. O Reino Unido suspendeu grande parte da sua ajuda financeira ao Ruanda, enquanto os Estados Unidos impuseram sanções ao ex-ministro da Defesa ruandês, James Kabarebe, acusado de coordenar o apoio militar ao M23.
Apesar do crescente isolamento, Kigali mantém uma postura intransigente. “O isolamento diplomático não nos preocupa”, sublinhou o chefe da diplomacia ruandesa, insistindo que o país enfrenta um desafio de sobrevivência.
ESFORÇOS INTERNACIONAIS PARA A PAZ
Diante do agravamento do conflito, líderes africanos intensificam esforços para um cessar-fogo e uma solução negociada. Os blocos regionais Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e Comunidade da África Oriental (EAC) nomearam três ex-líderes africanos como mediadores: Uhuru Kenyatta (Quénia), Olusegun Obasanjo (Nigéria) e Hailemariam Desalegn (Etiópia). A decisão foi anunciada após uma cimeira no início de fevereiro, que apelou a um fim imediato das hostilidades.
Além disso, os blocos decidiram fundir os processos de paz de Luanda e Nairobi, que já vinham tentando alcançar um entendimento entre as partes em conflito. No entanto, a situação no terreno continua volátil, com combates frequentes e um elevado número de vítimas. Segundo a ONU, os recentes confrontos já resultaram em quase 3.000 mortos, enquanto cerca de 4.000 soldados ruandeses permanecem no leste da RDCongo.
CONFLITO DE INTERESSES E ACUSAÇÕES MÚTUAS
O governo congolês acusa o Ruanda de apoiar diretamente o M23, fornecendo armamento e reforços militares. Kigali, por sua vez, argumenta que o exército congolês colabora com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo fundado por ex-líderes do genocídio de 1994 e que tem como objetivo recuperar o poder em Ruanda.
Desde 1998, o leste da RDCongo é palco de conflitos persistentes, envolvendo grupos armados e o próprio exército congolês, apesar da presença de tropas de manutenção da paz da ONU. A escalada recente da violência levanta preocupações sobre a estabilidade da região e o impacto humanitário do prolongamento do conflito.
Com as sanções internacionais em vigor e os esforços diplomáticos em andamento, o futuro da crise ainda permanece incerto, enquanto milhares de civis continuam a sofrer as consequências da guerra.