A cidade de Goma, capital da província de Kivu Norte, na República Democrática do Congo (RDC), com mais de 2 milhões de habitantes, está sob ameaça iminente de ser tomada pelos rebeldes do Movimento 23 de Março (M23), apoiados pelo Ruanda. Este avanço representa uma potencial catástrofe humanitária na já instável região.
Após capturarem Masisi e Minova, localidades estratégicas nas rotas de acesso a Goma, os rebeldes do M23 avançaram e agora estão a apenas 15 quilômetros da cidade. A ONU, através do Alto Comissário para os Direitos Humanos, emitiu um alerta destacando a gravidade da situação, que já causou 400 mil deslocados este ano, segundo Ravina Shamdasani, porta-voz da organização.
A queda de Goma agravaria a crise humanitária no leste da RDC, uma das regiões mais afetadas pela violência étnica e guerrilheira, com mais de 6 milhões de deslocados internos. A captura da cidade também enfraqueceria o governo de Félix Tshisekedi, que já ameaçou confrontar militarmente o Ruanda, acusado de apoiar logisticamente o M23.
A região dos Grandes Lagos, rica em minerais como coltão e cobalto, é palco de disputas há décadas. Esses recursos são frequentemente extraídos ilegalmente por grupos rebeldes e exportados pelo Ruanda, mascarando sua origem. A rivalidade entre Tshisekedi e Paul Kagame, presidente do Ruanda, intensificou-se, apesar de esforços de mediação, como os conduzidos pelo presidente angolano João Lourenço.
Desde 2021, o M23 tem ampliado sua ofensiva, ignorando acordos de cessar-fogo mediado em Luanda e quebrando tréguas garantidas por forças internacionais de interposição, incluindo tropas de Angola, África do Sul, Quênia e Uganda.
A ofensiva do M23 já resultou em uma crise humanitária alarmante. Hospitais em Goma estão sobrecarregados com vítimas, enquanto o pânico cresce entre os moradores, que ouvem explosões e tiroteios nos subúrbios. Além disso, o governo perdeu controle sobre áreas ricas em recursos naturais, resultando em perdas financeiras significativas e no fortalecimento do mercado negro.
Com mais de 100 grupos armados operando na região, a violência tem causado anualmente cerca de 20 mil mortes, principalmente de civis. A ONU e líderes regionais continuam a buscar uma solução para estabilizar a área, mas o avanço do M23 reforça a fragilidade dos esforços de paz.
Goma, um importante centro estratégico, tornou-se o símbolo da instabilidade na RDC. A sua possível queda intensifica os temores de que a região esteja à beira de um novo e devastador capítulo de conflito armado.