
Num gesto de exaltação nacional que mistura homenagem, simbolismo e controvérsia, o Presidente angolano vai condecorar mais 697 personalidades no âmbito das celebrações dos 50 anos da independência. A lista inclui nomes marcantes da cultura, da luta anticolonial e da sociedade civil, como Pepetela, Bonga, Paulo Flores e Rafael Marques — mas continua a gerar debate devido às ausências que evocam feridas por sarar na história política de Angola.
Será a segunda ronda de atribuição das medalhas comemorativas do cinquentenário da independência nacional. As distinções repartem-se em duas categorias: a Classe Independência, reservada a protagonistas da luta contra o colonialismo e fundação do Estado; e a Classe Paz e Desenvolvimento, que reconhece contributos para a reconstrução do país em tempos de paz.
Na Classe Independência, sobressaem nomes como Pepetela (Artur Pestana), escritor e antigo guerrilheiro do MPLA; Bonga, símbolo da música e da resistência angolana; o arcebispo Zacarias Kamwenho, mediador de paz em tempos de guerra civil; Waldemar Bastos, músico falecido que internacionalizou a alma angolana; e Luandino Vieira, escritor e ex-preso político durante o regime colonial.
Na vertente da Paz e Desenvolvimento, serão homenageadas figuras do presente e da sociedade civil, como o premiado escritor José Eduardo Agualusa, o cantor Paulo Flores, voz crítica e poética da realidade angolana, o ativista dos direitos humanos Rafael Marques de Morais, o ex-futebolista Pedro Mantorras, o músico Eduardo Paim, considerado um dos fundadores da kizomba, e o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco.
Embora a data oficial da cerimónia ainda não tenha sido divulgada, sabe-se que esta nova ronda contempla 252 homenagens na Classe Independência e 445 na Classe Paz e Desenvolvimento. O ciclo de condecorações deverá estender-se até ao final de 2025, segundo fonte oficial.
Contudo, a iniciativa continua envolta em polémica. A primeira cerimónia, realizada meses antes, foi marcada por ausências notórias e críticas públicas, especialmente pela não inclusão de Jonas Savimbi, líder histórico da UNITA, e Holden Roberto, fundador da FNLA — ambos protagonistas inegáveis da luta de libertação nacional. Também ficaram de fora figuras como Isaías Samakuva, Ernesto Mulato, José Samuel Chiwale, Miraldina Jamba e a antiga primeira-dama Maria Eugénia Neto, que optaram por não comparecer.
A nova lista amplia o reconhecimento simbólico, mas não dissipa totalmente a sensação de que o processo de reconciliação histórica e política ainda está por concluir. As celebrações dos 50 anos da independência continuam, mas a construção da memória colectiva de Angola permanece em disputa.