Tem se verificado, nas últimas semanas, grandes quantidades de tomate produzido localmente a serem comercializadas nos mercados informais muito abaixo do preço habitual. A baixa de preços deve- -se à grande oferta que invadiu o mercado no último mês e tem levado a uma corrida aos mercados por parte de revendedores informais, bem como de consumidores com condições para armazenar e conservar quantidades consideráveis.
Para se ter uma ideia, um balde (de 3 litros) de tomate no mercado do Catinton, que até o mês passado era comercializado a valores entre 3.500 Kz e 4.000 Kz, está a ser vendido a 1.000 Kz (-75%). Já a caixa de 25 quilogramas, que até o mês passado custava entre 12.000 Kz a 15.000 Kz, dependendo da qualidade e origem do produto, está a ser vendida a um preço que varia entre 4.500 e 3.000 Kz, com reduções entre 71% e 73%.
Mas nos mercados formais o cenário é diferente. Os preços não sofreram grandes alterações desde o mês passado e não se vê a mesma abundância do produto.
Ao comparar os preços que estão a ser praticados no mercado formal e no informal verifica-se uma diferença de 50%. Ou seja, o mesmo produto produzido no País está a ser comercializado pelo dobro do preço no mercado formal, já que enquanto nas praças 1 quilo de tomate custa à volta de 420,2 Kz, nos supermercados o preço varia entre 840 Kz e 990 Kz o quilo.
Além do tomate, de acordo com relatos de uma revendedora, boa parte dos produtos do campo produzidos localmente, como a cebola, cenoura, pimenta e o repolho, reduziram os preços e a principal razão para essa queda é o aumento da produção, no período frio, somado à colheita que forçou o ajuste para corresponder à demanda.
De acordo com o economista Heitor Carvalho, o que diferencia o comportamento dos dois mercados é a capacidade de conservação do produto. Os mercados informais funcionam sem conservação, logo o que se produz tem de ser escoado imediatamente, cenário que é completamente diferente nos formais.
Desde Dezembro, preços subiram 26% no mercado informal e 25% no formal
Os preços de alguns dos principais produtos da cesta básica registaram um aumento de 26% no mercado informal e 25% no formal, no mês de Setembro em relação a Dezembro do ano passado, apurou o Expansão numa ronda feita na cidade de Luanda, comparando os preços levantados entre a segunda quinzena de Dezembro e a última semana de Setembro. As informações foram recolhidas nos mercados formais (Kero, Candando e Maxi) e informais (Catinton e Asa Branca).
Apesar da estabilidade aparente da taxa de câmbio desde Dezembro, os preços continuam em alta, afectando o poder de compra das famílias. A escassez de divisas e a especulação são factores que contribuem para a subida dos preços. A população enfrenta desafios crescentes para adquirir alimentos básicos, resultando em estratégias de consumo, como comprar porções menores e vender produtos fraccionados para lidar com os altos custos.
No mercado informal, numa lista de 18 produtos seleccionados, verificou-se que para comprar o mesmo cabaz é preciso hoje mais 27.450 Kz do que há nove meses. Destaca-se, entre os produtos seleccionados, a caixa de peixe carapau como o alimento que mais encareceu o cabaz, com um aumento de 13.000 Kz (48%) desde Dezembro. A caixa de coxa de frango, um dos produtos mais consumidos pelas famílias de baixa e média renda, que custava em Dezembro 14.000 Kz, está hoje a ser comercializada a 20.300 Kz (mais 45%) e o saco de arroz de 25 kg com um aumento de 24% também se destaca já que está à venda por 26.000 Kz, com um aumento de 5.000 Kz.
Em marcha inversa, houve produtos que tiveram os seus preços reduzidos, com destaque para o açúcar, o sal grosso, e o vinagre de sidra. Por outro lado, constatou-se também preços que se mantiveram inalterados, como é o caso da batata e do açúcar. Já no mercado formal, dos 11 produtos seleccionados para o levantamento, entre os que mais cresceram destacam- -se o leite Nido, o frango congelado e a farinha de trigo. No outro extremo, entre os preços que mais reduziram estão a fuba de milho e o feijão preto.
De acordo com a docente universitária Conceição Faria da Silva, esta subida dos preços está ligada à fraca produtividade nacional que impacta directamente a quantidade ofertada dos bens no mercado. Em contrapartida, há uma procura massiva desses bens escassos que justifica a subida generalizada dos preços. “A economia nacional continuará a registar esses episódios, até que tenhamos a representatividade necessária da produção nacional, que vai trazer alguma resolução no que se refere à valorização da moeda nacional e a estabilização dos preços no mercado”.