
Quatro anos após o último “chumbo” do Tribunal Constitucional, o projecto político de Abel Epalanga Chivukuvuku — o resiliente das sete vidas — foi finalmente legalizado. A anotação do PRA-JA Servir Angola ocorreu a 7 de Setembro de 2024, marcando um novo capítulo no xadrez político angolano.
Chivukuvuku, antigo quadro da UNITA e discípulo de Jonas Savimbi, é reconhecido pela sua capacidade de mobilização, retórica apurada e presença transversal nos diferentes estratos sociais. Apesar de ser rotulado por alguns como “traidor”, o político prefere manter o foco em servir Angola com a sua nova bandeira: o partido de azul e branco.
Durante os anos em que o projecto aguardava legalização, cresceu o sentimento — entre políticos da Frente Patriótica Unida (FPU) e a sociedade civil — de que havia um bloqueio político com a suposta mão do MPLA, temendo o fortalecimento da oposição. O Tribunal Constitucional foi, por isso, duramente criticado.
Um mês após o reconhecimento oficial, Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA e coordenador da FPU, afirmou que a legalização do PRA-JA teve motivações políticas para enfraquecer a plataforma da oposição. No entanto, garantiu que a união continua firme.
A FPU, recorde-se, reuniu figuras como Adalberto Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes e Abel Chivukuvuku, conseguindo eleger 90 deputados nas eleições de 2022 — um feito histórico. Hoje, contudo, há sinais visíveis de um “apagão” na coordenação da frente, com a ausência dos líderes em actividades conjuntas e sem manifestações públicas de coesão.
Desde a legalização, o PRA-JA tem registado uma adesão considerável de cidadãos, incluindo ex-militantes de outros partidos. Chivukuvuku volta a apostar na proximidade com o povo, à semelhança dos tempos em que liderava a CASA-CE, tendo conquistado primeiro 8, depois 16 deputados.
Analistas destacam que Abel, ao se aproximar da base da UNITA no contexto da FPU, poderá captar quadros e militantes da antiga casa. A sua capacidade de comunicação em umbundu e o conhecimento profundo da UNITA conferem-lhe uma vantagem estratégica.
Entretanto, têm-se intensificado ataques de milícias digitais, supostamente ligadas a ACJ, que acusam Chivukuvuku de ingratidão e traição. Internamente, no PRA-JA, rejeita-se essa narrativa e defende-se que foi graças à imagem de Abel que a FPU ganhou vitalidade nas últimas eleições.
Para reforçar o compromisso com a nova força política, sete deputados ligados ao PRA-JA renunciaram aos seus mandatos parlamentares para se dedicarem inteiramente ao partido, que já se assume pronto para governar em 2027 — seja sozinho, pela FPU, ou até mesmo em coligação com o MPLA, caso haja convergência de ideias.
CRISE DE IDENTIDADE NA FPU?
O PRA-JA defende uma reformulação e legalização formal da FPU como coligação de facto e de jure. A UNITA, por sua vez, rejeita essa proposta, afirmando que a FPU faz parte da sua estratégia e que Adalberto Costa Júnior é o seu legítimo titular.
A dúvida persiste: quem realmente detém a paternidade da FPU? A UNITA, que a promoveu e liderou desde o início, ou o PRA-JA, que ajudou a dar-lhe expressão e dimensão política?
As divisões tornam-se mais evidentes com o distanciamento de figuras outrora próximas, como Francisco Viana e outros membros que antes apareciam juntos nos palcos políticos.
UM PROJECTO DE LONGO PRAZO?
O PRA-JA afasta qualquer especulação de que visa apenas o segundo lugar no cenário político. A meta é clara: ser Governo ou fazer parte do mesmo. Mas fica a interrogação: conseguirá sobreviver ao tempo, às adversidades internas e externas? Estará o partido preparado para resistir aos mesmos desafios que fizeram cair outras formações promissoras?
Na próxima segunda-feira, voltaremos com uma nova abordagem sobre o I Congresso Ordinário Constitutivo do PRA-JA Servir Angola e os bastidores das potenciais candidaturas à sua liderança.