Um recente estudo realizado pela Afrobarometer revelou que a Polícia Nacional de Angola é considerada a instituição mais corrupta do país, com seis em cada dez cidadãos afirmando ter pago subornos para obter assistência policial. Além disso, o estudo aponta que a percepção de corrupção em Angola está em ascensão, com mais de metade dos inquiridos acreditando que a corrupção no país cresceu nos últimos anos.
Resultados Alarmantes
Segundo o relatório divulgado, 56% das pessoas que buscaram serviços públicos afirmaram ter tido que pagar subornos para obter ajuda da Polícia Nacional. Entre esses, 38% pagaram subornos para conseguir documentos do governo, como bilhete de identidade, carta de condução ou passaporte, marcando um aumento de 9 pontos percentuais em relação a 2019. Já 31% dos inquiridos admitiram ter pago para receber cuidados médicos, evidenciando a extensão da corrupção em diversos setores essenciais.
Corrupção Endêmica
O estudo da Afrobarometer classifica a corrupção em Angola como endêmica, especialmente no que se refere à “pequena corrupção”, que afeta a maioria das instituições públicas. Com uma pontuação de 33 em 100 no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional, Angola ocupa a 121ª posição entre 180 países avaliados. Este resultado reflete uma melhora em comparação com 2017, quando o país estava na 167ª posição, mas ainda indica uma longa jornada pela frente para combater a corrupção de forma eficaz.
Desafios no Combate à Corrupção
Especialistas destacam que, apesar de alguns avanços no combate à corrupção, Angola ainda enfrenta inúmeros desafios. Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), afirmou ao Expansão: “Isto é muito pouco para um país com ambições. Somos um povo que se orgulha dos seus feitos e não podemos pensar que as melhorias registadas desde 2019 são suficientes para todos nós.”
A fragilidade das instituições e a morosidade da justiça são apontadas como principais obstáculos. A Alta Autoridade Contra a Corrupção, criada pela lei n.º 3/96, ainda não foi efetivamente implementada, o que dificulta o combate sistemático à corrupção. Vicente Pongolola, advogado, criticou: “Já se falou tanto dessa figura, que deveria estar sob alçada da Assembleia Nacional, mas a verdade é que nunca foi implementada e não será implementada. Faltou vontade política e continua a faltar até hoje.”
Impacto na Sociedade
A corrupção generalizada afeta diretamente a vida dos cidadãos angolanos, dificultando o acesso a serviços básicos e perpetuando a desigualdade social. A percepção negativa sobre a Polícia Nacional contribui para a desconfiança generalizada nas instituições públicas, minando a eficácia das políticas governamentais e o bem-estar da população.
O aumento da percepção de corrupção em Angola, especialmente dentro da Polícia Nacional, destaca a necessidade urgente de reformas estruturais e fortalecimento das instituições de combate à corrupção. Sem uma ação decisiva e a implementação efetiva de órgãos como a Alta Autoridade Contra a Corrupção, Angola continuará enfrentando desafios significativos para garantir a transparência e a justiça social.
Fonte: Imparcial Press, Afrobarometer, Transparência Internacional