Nesta semana, o presidente João Lourenço agitou as bases do MPLA ao defender a escolha de um jovem como seu sucessor à frente do partido. Essa proposta, contudo, gera questionamentos sobre a viabilidade e legitimidade de tal decisão, considerando os desafios enfrentados e o histórico do próprio presidente. A decisão de Lourenço não apenas desconsidera as diferentes vozes e aspirações dentro do partido, como ignora sua própria trajetória de liderança, marcada por insatisfações e falhas.
A crítica central à ideia de João Lourenço é a sua falta de legitimidade para exigir que os militantes aceitem sua escolha de sucessor. Durante o seu mandato, as suas decisões revelaram-se ineficazes, e a inclusão de jovens em posições estratégicas, em muitos casos, resultou em mais problemas do que soluções. Hoje, alguns desses jovens líderes estão envolvidos em práticas que mancham a imagem do MPLA e do governo, demonstrando um saldo verdadeiramente negativo.
A questão não está na promoção de novas lideranças, mas sim na seriedade, competência e compromisso daqueles que chegam a posições de poder.
Com o estado crítico em que João Lourenço colocou o país, Angola precisa de um líder experiente, maduro, com um histórico sólido e que compreenda as complexidades políticas e sociais do país. Precisamos de alguém capaz de corrigir o rumo e construir um futuro mais estável e promissor para o MPLA e para Angola.
Tomemos como exemplo Luiz Inácio Lula da Silva, que mesmo com sua idade avançada revitalizou o Brasil e recuperou sua posição no cenário internacional. Sua liderança não se destacou apenas por uma questão de idade, mas pela capacidade de unir e guiar o país em tempos adversos. Outros exemplos, como Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Recep Erdogan (Turquia), Bola Tinubu (Nigéria) e Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal), reforçam a ideia de que liderança não depende de juventude, mas de experiência e capacidade de inspirar.
O MPLA necessita de uma liderança que respeite o legado do partido, e que não sobrecarregue suas bases com imposições que ignoram a diversidade e a experiência acumulada ao longo dos anos. É essencial abrir espaço para um debate democrático e inclusivo, onde diferentes candidatos possam apresentar suas propostas para o futuro de Angola.
Em nome das figuras históricas do MPLA, como Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, é hora de repensar a estratégia de sucessão no partido. A imposição de um jovem ou de qualquer candidato sem a devida consideração pela experiência representa um retrocesso num momento em que o MPLA precisa de estabilidade e visão clara para enfrentar os desafios presentes e futuros.
Autor: Pedro Milagre Kilamba
Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), Mestre em Estratégia pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da então Universidade Técnica de Lisboa, e Doutorado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).