
As tensões dentro do MPLA estão a atingir novos níveis com acusações directas contra o Secretário-Geral do partido, Paulo Pomblo, que estaria a favorecer a candidatura de Manuel Homem à liderança do partido e, eventualmente, à Presidência da República. Denúncias vindas de vários comités municipais dão conta de pressões internas, orientações autoritárias e movimentações que violam o espírito de neutralidade exigido pela direcção do partido.
Segundo fontes posicionadas nas estruturas intermédias e de base do MPLA, Paulo Pomblo tem aproveitado as visitas aos comités municipais para, de forma velada, promover a figura de Manuel Homem — actual Ministro do Interior — como o sucessor ideal de João Lourenço. Apesar de nenhum anúncio oficial ter sido feito, a percepção entre militantes é clara: o jogo está a ser inclinado antes mesmo do “apito do árbitro”, expressão usada pelo Presidente do partido para apelar à contenção e ao respeito pelas regras.
As suspeitas agravaram-se após o lançamento recente de uma obra literária de Manuel Homem, no Memorial António Agostinho Neto, onde dezenas de militantes foram mobilizados em massa. De acordo com várias testemunhas, a ordem para a participação partiu directamente do Secretário-Geral, com o aviso claro de que a ausência seria interpretada como desobediência à “orientação superior”.
Estas movimentações provocaram um ambiente de desconforto crescente entre os quadros do MPLA, sobretudo nos comités municipais, onde vários primeiros secretários sentem que estão a ser usados para legitimar uma candidatura ainda não oficializada. Em resposta, um grupo destes secretários está a preparar um memorando colectivo a ser apresentado nos próximos dias à Direcção Nacional do partido, no qual criticam a actuação de Paulo Pomblo e exigem garantias de um processo democrático transparente e justo.
Para muitos militantes, estas práticas internas contradizem os princípios democráticos que o MPLA diz defender a nível nacional. A possibilidade de avançar com múltiplas candidaturas à liderança do partido ganha força entre os camaradas descontentes, que não aceitam a imposição de um “candidato único” e consideram essencial abrir o debate interno.
A crise agora instalada poderá marcar um ponto de viragem dentro do MPLA, colocando à prova não apenas a liderança de João Lourenço, mas também a capacidade do partido em renovar-se sem cair nos vícios do passado. A pressão está a aumentar, e o relógio político não pára: os próximos dias poderão ditar o rumo da sucessão presidencial em Angola.