Na província do Cunene, mulheres e crianças continuam a deixar Angola em busca de melhores condições de vida na Namíbia, em meio a uma seca persistente que tem devastado a região. Teresa Ndinelao, diretora executiva em exercício da Associação Ame Naame Omunu, relatou à Voz da América a difícil realidade que testemunhou durante sua visita à Namíbia.
De acordo com Ndinelao, a fome e o desemprego têm forçado muitas mulheres a abandonar suas famílias. “Encontramos mamãs que dormem por baixo das árvores com as suas crianças”, disse. Antes, apenas os homens buscavam emprego fora, mas agora são as mulheres que deixam maridos e filhos para procurar trabalho.
Ela destacou que muitos angolanos estão realizando trabalhos temporários, como cortar capim em quintais, para conseguir alguma forma de subsistência. Infelizmente, muitas dessas crianças têm apenas 12 a 14 anos.
As culturas de massango, que servem como base alimentar, não resistiram à seca, que se seguiu às chuvas esparsas de outubro e novembro. Ndinelao também mencionou que o projeto Cafu, destinado a beneficiar 235 mil pessoas em municípios como Ombadja, Cuanhama e Namacunde, tem sido explorado por pessoas de fora da região, deixando os locais sem acesso aos recursos necessários.
O ambientalista Bernardo Castro alertou que, sem acesso a serviços básicos e condições que incentivem a produção, será difícil conter a migração sazonal da população. Ele criticou a abordagem do governo em relação ao Canal do Cafu, afirmando que é apenas uma parte de um problema maior.
A governadora do Cunene, Gerdina Ulipamue Didalewa, reconheceu que os municípios de Cahama, Curoca e parte de Ombadja são os mais afetados pela seca, mas enfatizou que a população deve agir de forma proativa. Ela pediu que as famílias se envolvam em práticas agrícolas sustentáveis, como a irrigação, em vez de depender das chuvas irregulares.
Didalewa também destacou o programa Kwenda, que visa apoiar famílias em situação de pobreza. Em maio de 2024, as autoridades da Namíbia repatriaram mais de 50 crianças angolanas que estavam vivendo nas ruas. O Ministério do Interior informou que muitas dessas crianças se recusaram a fornecer informações sobre suas origens, e o número total de crianças abandonadas em Namíbia permanece desconhecido, apesar de relatos de centenas na região de Windhoek.
A situação continua a ser crítica, e as comunidades do Cunene clamam por ações eficazes para melhorar suas condições de vida e garantir a segurança de suas famílias.