
Fernando Garcia Miala, atual chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), está no centro das atenções políticas em Angola como potencial sucessor do Presidente João Lourenço. Segundo especialistas, o nome de Miala figura entre os principais candidatos preferidos do Presidente, ao lado de Edeltrudes Costa. No entanto, diferentemente de Edeltrudes, que tem mantido discrição sobre as suas ambições, o círculo próximo a Miala já iniciou movimentos estratégicos para fortalecer sua imagem pública e projetá-lo como figura central da próxima fase da liderança nacional.
Na manhã desta quarta-feira, 16, diversos canais digitais divulgaram um texto enaltecendo os feitos atribuídos a Fernando Garcia Miala, o que é visto por analistas como uma manobra política para torná-lo uma figura mais próxima do público e justificar uma possível nomeação para o Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, considerada por muitos como a próxima etapa na sua ascensão ao topo do Estado angolano.
A trajetória de Fernando Garcia Miala no seio da segurança do Estado é longa e densa. Ele entrou para o então Futungo de Belas na década de 1980, descoberto por José Manuel Domingos (hoje Brigadeiro Tunecas), durante uma operação envolvendo o sequestro da filha do embaixador Checo em Luanda. Miala, na época destacado em Saurimo, foi chamado por apresentar qualidades incomuns para a função de operativo de elite.
Foi rapidamente acolhido por figuras como o então major António José Maria, Secretário do Presidente para Defesa e Segurança, que o promoveu a oficial de campo. Desde então, Miala cresceu na estrutura de inteligência angolana, sendo considerado um dos mais influentes estrategistas de segurança do país.
Em 2015, foi apontado numa cimeira da CIRGL como um dos quadros com perfil ideal para coordenar a inteligência regional. Ainda recentemente esteve na Rússia em formação, o que foi interpretado como preparação para missões de maior envergadura, numa fase em que se discute a transição do poder presidencial em Angola.
Natural de Luanda, com raízes no Uíge e Kwanza-Sul, Miala teve uma juventude marcada por laços familiares fortes e militância na Brigada da Juventude Revolucionária (BJR), da FNLA. Passou pelas FAPLA, atuando na Contra Inteligência Militar, e esteve destacado em São Tomé antes de regressar para integrar o sistema de segurança em Luanda.
Nos anos 90, envolveu-se em operações estratégicas durante a guerra civil, tendo sido promovido a brigadeiro e nomeado vice-ministro do Interior. Após divergências com Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nando”, foi afastado, mas rapidamente reaproveitado por Kopelipa, passando a liderar o então COSSE, embrião do atual SSE – Serviço de Segurança Externa.
Durante o auge do conflito com a UNITA, Miala liderou operações que buscavam enfraquecer as redes externas de Jonas Savimbi. Conseguiu atrair para Luanda Araújo Sakaita, filho de Savimbi, mas fracassou em outras missões que foram neutralizadas por serviços secretos aliados à UNITA. Ainda assim, é apontado como figura-chave no aconselhamento que levou José Eduardo dos Santos a evitar perseguições após a morte de Savimbi.
Miala também desempenhou papel fundamental na reintegração de antigos quadros da UNITA, como Esteves Pena, e viajou à Zâmbia, Togo e Burkina Faso com missões diplomáticas e de pacificação, ganhando prestígio junto a líderes africanos como Blaise Compaoré e Eyadéma.
A nova ofensiva digital que promove os feitos e o perfil técnico de Fernando Garcia Miala é vista por analistas como o sinal mais claro de que sua candidatura à liderança do Estado está em movimento. O apoio do aparelho de segurança, a experiência acumulada em contextos de guerra e reconciliação, e sua lealdade histórica ao regime, tornam-no uma figura incontornável nas conversas sobre o pós-Lourenço.
Com o cenário político de Angola em transformação, e a sucessão presidencial a aproximar-se, a “nova encomenda” de Miala poderá ser o teste final de um homem que sempre operou nas sombras, mas que agora surge, cada vez mais, à luz do dia.