O líder parlamentar da UNITA, Liberty Chiaka, declarou hoje sua disposição em apurar a veracidade das acusações feitas pelo Presidente angolano, João Lourenço, sobre o envolvimento de políticos em crimes de contrabando e vandalismo. Chiaka, falando aos jornalistas após o discurso presidencial sobre o Estado da Nação, considerou a acusação de Lourenço como “grave” e defendeu que é necessário investigar tais alegações.
Durante o discurso, João Lourenço lamentou que políticos e parlamentares, que deveriam defender a lei e o bem público, estariam fomentando crimes como o contrabando de combustíveis e a vandalização de bens públicos. Em resposta, Chiaka afirmou: “Nós, enquanto deputados, estamos na disposição de contribuirmos para se apurar a veracidade desta grave acusação. Mas é importante dizer que todos nós sabemos que os que fazem o contrabando de combustível são dirigentes do regime, em certa medida, o Presidente estava a apontar as suas baterias ao seu grupo parlamentar.”
Liberty Chiaka também denunciou um suposto plano de utilizar o poder judicial para combater adversários políticos, alegando que, se esse for o propósito, a iniciativa está fadada ao fracasso. O líder da oposição expressou sua decepção com o retrato do Estado da Nação apresentado por Lourenço, afirmando que não reflete a dura realidade vivida pelos angolanos. “Infelizmente, depois de duas horas do discurso do Presidente, a nossa maior decepção [foi] não termos ouvido do Presidente um retrato fiel da dura realidade que os angolanos vivem”, disse Chiaka.
Ele destacou que Angola, prestes a completar 50 anos de independência, ainda enfrenta a existência de “presos políticos, presos de consciência”, o que, em sua visão, indica o fracasso político do país. Chiaka criticou a nova divisão político-administrativa, que aumentou o número de províncias do país, considerando que essa medida atrasa a implementação das autarquias locais.
O parlamentar também lamentou a falta de menção à “grave situação de fome que Angola vive”. Segundo ele, “o país tem 17 milhões de pobres, dez milhões de angolanos passam fome: nem uma palavra, nenhuma estratégia foi apontada para se combater a pobreza, a extrema pobreza e a fome.” Chiaka destacou ainda a ausência de reconhecimento das violações dos direitos humanos e das execuções sumárias no discurso presidencial.
Durante a cerimônia que marca o início do ano parlamentar, o grupo da UNITA realizou um protesto exibindo panfletos sobre a situação econômica e social, interrompendo várias vezes o discurso de João Lourenço. Os deputados da UNITA pediram a renúncia do Presidente, argumentando que o governo falhou em sua administração.