
Nelito Ekuikui, deputado e líder da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), proferiu declarações contundentes esta semana, atribuindo ao MPLA a principal responsabilidade pela actual instabilidade social e económica em Angola. Em entrevista à agência Lusa, Ekuikui acusou o partido no poder de “insistir numa lógica de permanência no poder à força” e de não utilizar de forma eficaz os instrumentos institucionais de que dispõe para conter a crise.
“O MPLA é responsável por tudo o quanto vai acontecer ou está a acontecer em Angola”, afirmou o dirigente juvenil da UNITA, sublinhando que é da responsabilidade do Executivo garantir a estabilidade, sobretudo num contexto de acentuada degradação das condições de vida dos cidadãos. Para o jovem deputado, o país enfrenta uma crise profunda que exige respostas sérias, não retóricas.
Ekuikui contrariou a narrativa de que os partidos da oposição se limitam a criticar sem apresentar soluções, assegurando que a UNITA tem tido um papel central na manutenção da ordem pública, mesmo em circunstâncias adversas. “Temos pago um preço muito caro a segurar o povo, garantindo a estabilidade”, destacou, numa crítica implícita ao que considera ser a ausência de medidas eficazes por parte do governo.
As declarações surgem numa altura em que o presidente do grupo parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira “Reis Júnior”, apelou ao Executivo para reforçar o combate à corrupção e adoptar uma gestão mais eficiente dos recursos públicos. Reis Júnior acusou a oposição de “promessas vazias” e de não apresentar propostas realistas para os problemas do país, enfatizando a necessidade de uma governação baseada na transparência e na responsabilidade fiscal.
O discurso de Ekuikui, no entanto, responde a essas críticas com um alerta: a estabilidade não se sustenta apenas com discursos de austeridade e promessas de reformas, mas sim com justiça social, inclusão política e reconhecimento do papel dos diversos actores políticos.
A tensão verbal entre os dois maiores partidos da cena política angolana reflecte o clima de crescente polarização no país, alimentado por uma crise económica persistente, protestos esporádicos em diversas províncias e um ambiente de insatisfação generalizada com o ritmo das reformas prometidas pelo Executivo.
À medida que o país se aproxima de novas etapas do calendário político, a disputa narrativa entre MPLA e UNITA deverá intensificar-se, especialmente em torno das questões da estabilidade, da crise económica e da legitimidade das instituições democráticas.