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O programa Kwenda, que visa fortalecer a proteção social em Angola, está prestes a concluir sua primeira fase em abril de 2024, após quase cinco anos de execução. A iniciativa, que introduziu transferências de recursos para famílias em situação de vulnerabilidade, cadastrou 1.667.906 agregados familiares elegíveis até outubro de 2024. Deste total, 1.061.746 beneficiários receberam pagamentos totalizando 108,374 mil milhões Kz, o que representa uma média de 100 mil Kz por família.
Apesar desse avanço, os dados revelam um aumento preocupante no número de angolanos em situação de pobreza extrema. Em janeiro de 2025, esse número cresceu para 11,6 milhões, um aumento de 1 milhão desde 2020. O “Relatório de Avaliação do Impacto” do Kwenda, divulgado recentemente em Luanda e financiado pelo FAS – Instituto de Desenvolvimento Local, destaca que a percentagem da população em pobreza extrema se manteve estável, variando entre 31% e 33% ao longo dos anos.
A pesquisa realizada por consultores angolanos, que entrevistaram mais de 5.700 pessoas em áreas rurais, indica que o programa, embora tenha atingido 15 mil aldeias em 94 municípios, ainda é insuficiente para reverter a realidade da pobreza no país. Angola integra um grupo de 12 países que enfrentam um aumento contínuo de “novos” pobres, com uma proporção alarmante de pessoas vivendo com menos de 2,15 USD por dia.
Embora cada família tenha recebido 33 mil Kz anualmente, este valor, embora modesto, é considerado por alguns especialistas como um alívio em contextos rurais. Paulo Filipe, consultor independente, afirma que as transferências financeiras, mesmo que limitadas, têm o potencial de transformar vidas, enfatizando a importância do envolvimento dos Agentes de Desenvolvimento Comunitário (ADECO) no processo.
Além das transferências monetárias, o Kwenda inclui outras iniciativas, como a inclusão produtiva e o fortalecimento do Cadastro Social Único, essencial para identificar famílias em vulnerabilidade. No entanto, o questionamento sobre a eficiência do uso dos recursos financeiros persiste. Embora o Banco Mundial tenha inicialmente prometido um financiamento de 320 milhões USD, até outubro de 2024, apenas 5 milhões USD foram alocados de recursos nacionais, levantando preocupações sobre a gestão e implementação do programa.
Em suma, enquanto o Kwenda representa um passo importante na luta contra a pobreza em Angola, os desafios permanecem significativos, exigindo uma abordagem mais abrangente e eficaz para enfrentar a crescente crise social.