
O regresso de Joseph Kabila à República Democrática do Congo (RDC) está a gerar um terramoto político de proporções imprevisíveis. Após cinco anos de ausência e críticas persistentes ao actual Chefe de Estado, Félix Tshisekedi, o antigo Presidente reaparece em Goma, no coração da região controlada pelos rebeldes do M23, e reacende uma polémica que há muito dividia analistas e líderes políticos: estaria Kabila a conspirar com os grupos armados para regressar ao poder?
Recebido por Corneille Nangaa, líder da coligação rebelde Aliança do Rio Congo (AFC) apoiada pelo Ruanda e composta pelo M23, Kabila instalou-se no Kivu Norte, território fora do controlo do Governo central desde o início do ano. A chegada foi oficialmente anunciada por Lawrence Kanyuka, porta-voz do M23, que o saudou como uma figura bem-vinda “à região libertada”.
Embora o ex-Presidente ainda detenha, por direito constitucional, o estatuto de Senador vitalício, o seu reaparecimento num cenário dominado por milícias insurrectas coloca em risco esse privilégio, sobretudo perante as acusações pendentes de traição no Tribunal Militar Superior.
Fontes locais relatam que, antes de surgir fisicamente em solo congolês, Kabila publicou um vídeo nas redes sociais onde teceu duras críticas ao Governo de Tshisekedi, classificando-o de corrupto e ineficaz. A mensagem foi interpretada por muitos como um prelúdio de um plano mais vasto para subverter o poder político em Kinshasa, possivelmente através de uma ofensiva militar coordenada pelos rebeldes, como sugerido anteriormente por Nangaa.
A narrativa de uma aliança tácita entre Kabila e o M23 tem sido sustentada por Tshisekedi e seus aliados ao longo dos últimos anos. Para o actual Presidente, esta reaparição não é uma surpresa, mas sim a confirmação de que o seu antecessor nunca deixou de ser um actor central nos bastidores da instabilidade no leste do país.
No terreno, o impacto é já visível. Analistas internacionais apontam que a presença de Kabila poderá conferir uma inesperada legitimidade política à causa rebelde, ampliando o alcance e a influência do M23, não apenas no plano militar, mas também na esfera comunicacional e diplomática.
Enquanto Kinshasa pondera a resposta a este movimento, o povo congolês assiste, com receio e esperança confusos, ao ressurgir de uma figura histórica outrora símbolo de estabilidade agora envolvida numa teia de alianças que poderá redefinir o futuro da RDC.