
Num momento em que a geopolítica internacional impõe novos alinhamentos e reconfigurações diplomáticas, o Presidente angolano João Lourenço prepara-se para realizar ainda este ano uma nova visita oficial à Federação Russa, sinalizando uma reaproximação estratégica entre Luanda e Moscovo. A informação foi avançada pelo embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, que, embora sem revelar datas, garantiu que a visita já foi confirmada pelas vias diplomáticas formais.
“Aguardamos a visita do Presidente João Lourenço à Rússia ainda em 2025. Trata-se de um momento de grande importância, que reflecte o mais alto nível político da nossa cooperação”, afirmou Tararov à margem de uma conferência internacional realizada em Luanda.
O diplomata rejeitou qualquer ideia de distanciamento entre os dois Estados e reforçou a narrativa de “irmandade histórica”, invocando o contributo da antiga União Soviética na luta pela independência e pela soberania de Angola. “Deixámos o nosso sangue nesta terra sagrada. A nossa relação com Angola é antes de tudo uma relação entre irmãos”, declarou.
A Rússia tem procurado reforçar a sua presença diplomática e económica em África, numa altura em que países africanos revêm alianças e buscam maior autonomia estratégica. Neste contexto, Angola volta a figurar como um parceiro-chave. A recente ampliação da equipa da embaixada russa em Luanda, com a inclusão de conselheiros para áreas como agricultura, economia e tecnologia, é vista como um sinal do compromisso bilateral de alargar o espectro da cooperação.
No campo militar, Vladimir Tararov evitou confirmações sobre eventuais acordos adicionais, mas salientou a solidez da formação militar angolana de matriz russa. “Mais de 27 generais angolanos foram formados nas nossas academias. Isso diz tudo sobre a profundidade desta relação”, declarou, acrescentando que os mecanismos de cooperação “existiram, existem e continuarão a ser desenvolvidos”.
A visita presidencial surge numa fase delicada do xadrez diplomático internacional, com Angola a manter uma postura equilibrada entre os seus parceiros ocidentais e potências emergentes como a China e a Rússia. Para observadores políticos, a deslocação de João Lourenço a Moscovo poderá servir tanto para reforçar compromissos económicos quanto para consolidar uma cooperação político-militar historicamente relevante.
O encontro deverá também ser interpretado à luz das iniciativas conjuntas discutidas na Conferência Internacional sobre o Papel dos Países da Linha da Frente na Libertação Total da África Austral, que decorreu esta semana em Luanda. O evento contou com presenças de peso, como Joaquim Chissano, ex-Presidente de Moçambique, e generais históricos como França “Ndalu” e o cubano Leopoldo Cintra Frías, sublinhando a herança de solidariedade anti-colonial que ainda molda muitas das alianças do continente.
A expectativa em torno da visita de João Lourenço à Rússia está agora centrada na formalização de novos acordos e na reafirmação de Angola como parceiro relevante numa ordem internacional cada vez mais multipolar.