
Numa entrevista marcada por críticas directas e alertas à oposição, o Presidente da República, João Lourenço, deixou recados contundentes à UNITA, acusando o maior partido da oposição de fomentar instabilidade no país e depois procurar resolvê-la em encontros no Palácio Presidencial.
“Não se pode criar tensão política e pensar que se resolve com audiências no palácio”, afirmou o Chefe de Estado esta segunda-feira, 09, durante uma entrevista exclusiva concedida à Televisão Pública de Angola (TPA). A declaração surge num momento em que o ambiente político nacional tem estado particularmente sensível, com crescentes críticas à governação e propostas de reforma eleitoral em discussão.
Segundo João Lourenço, a prática de provocar climas de tensão para, posteriormente, recorrer ao diálogo com o Presidente, não contribui para um ambiente político saudável. “Não se deve provocar a tensão e depois, como remédio, ir a correr ao Palácio, conversar com o Presidente da República e está tudo resolvido. E, no dia seguinte, voltar a provocar a tensão política. Isto não é solução”, sublinhou, numa clara alusão ao comportamento de líderes da UNITA.
O Presidente defendeu, em contrapartida, a promoção de um diálogo construtivo e responsável entre todos os actores políticos. “Devemos todos esforçar-nos para evitar factos que provoquem tensão política. Se eles existirem, que sejam mínimos. Não é correcto manter-se neste ciclo”, alertou, apelando à maturidade política no seio da oposição.
João Lourenço aproveitou ainda para justificar a proposta de revisão do Pacote Legislativo Eleitoral, apontando como objectivo central a redução da suspeição em torno dos processos eleitorais. “Infelizmente, a suspeição persegue as eleições no continente africano”, lamentou, defendendo que o novo quadro legal visa afastar a possibilidade de se questionar, sem fundamentos, os resultados eleitorais.
“Queremos garantir que quem perder saiba que perdeu num processo transparente, legal e fiável. Isso fortalece a democracia”, rematou o Presidente.
As declarações do Chefe de Estado já começaram a gerar reacções nos meios políticos e na sociedade civil, reacendendo o debate sobre o papel da oposição, a qualidade do diálogo político em Angola e os contornos do próximo ciclo eleitoral. Para muitos analistas, o discurso directo de João Lourenço revela um endurecimento da postura presidencial face às movimentações da UNITA e poderá marcar o tom dos próximos embates políticos.