O embaixador do Irão em Portugal, Majid Tafreshi, afirmou hoje que é “indiferente” para Teerão quem ganhar as eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro, ressaltando que os Estados Unidos “estão a perder crédito” internacionalmente. Durante uma conferência de imprensa na embaixada iraniana em Lisboa, Tafreshi comentou que os Estados Unidos, embora ainda uma superpotência, poderiam ser “muito mais bem-sucedidos”.
“Com o envolvimento em guerras desnecessárias… Como [Donald] Trump referiu uma vez, [os EUA] perderam 7.000 milhões de dólares só no conflito do Médio Oriente. Para quê? Mostrem-me uma fotografia em que cinco pessoas estejam em caixões dos soldados norte-americanos, a dizer ‘obrigado, Deus vos abençoe'”, argumentou Tafreshi, questionando o valor e os resultados dessas intervenções.
Tafreshi destacou que, para o Irão, não importa se Trump ou [Kamala] Harris vencer, desde que ignorem as políticas que ele considera prejudiciais. Ele também sugeriu que os Estados Unidos deveriam agir como um “avô a sério” em vez de um “padrasto”, abusando do poder contra outros países.
O diplomata iraniano associou os Estados Unidos a vários problemas enfrentados pelo Irão, incluindo as sanções económicas “ilegais” que, segundo ele, privam o país de recursos essenciais e causam muitas “mortes silenciosas”. Ele afirmou que algumas pessoas estão morrendo nos hospitais por falta de medicamentos e criticou a cobertura midiática sobre o ‘hijab’ (véu islâmico).
A obrigatoriedade do ‘hijab’ e a morte de Mahsa Amini sob custódia policial em 2022, após ser detida por supostas infrações relacionadas com o uso do véu, desencadearam protestos em todo o país. Tafreshi minimizou as denúncias de repressão às mulheres e execuções excessivas, afirmando que a polícia dos costumes apenas aconselha verbalmente e, ocasionalmente, pede que as pessoas visitem a esquadra para explicações sobre o uso do ‘hijab’. Ele enfatizou que ações violentas por parte da polícia são ilegais e casos de abuso são exceções, não a regra.
Tafreshi defendeu que o ‘hijab’ é um traje legal baseado nos valores islâmicos reconhecidos na Constituição iraniana, referendados pela população em 1980. Ele descreveu o véu como um lenço leve que não representa uma limitação.
Sobre as sanções econômicas, Tafreshi afirmou que elas não impediram o progresso do Irão. O índice de alfabetização no país subiu de 50% para 95%, e a capacidade universitária aumentou dez vezes. Ele ressaltou que muitos livros e filmes são produzidos anualmente no Irão, evidenciando a vitalidade cultural do país.
O embaixador mencionou o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) de 2015, que limitava as atividades nucleares do Irão em troca do levantamento das sanções internacionais. O acordo está suspenso desde 2018, quando o então presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos unilateralmente. As negociações para o relançamento do JCPOA, que envolvem Teerão e outros países signatários com a participação indireta dos EUA, estão paralisadas desde o verão de 2022.