
O sistema estatístico nacional está em crise de colaboração. Quem o diz é Joel Futi, diretor-geral do Instituto Nacional de Estatística (INE), que deixou duras críticas à postura de vários departamentos ministeriais que, segundo afirma, estão a ignorar a sua obrigação de produzir e partilhar dados estatísticos oficiais.
Durante a 1.ª sessão plenária ordinária do Conselho Nacional de Estatística, realizada esta terça-feira, Futi lamentou o que classificou como um “incumprimento generalizado” por parte de organismos estatais que deviam ser parceiros-chave na construção de um retrato fiável da realidade socioeconómica do país.
“Há muitas publicações estatísticas sectoriais que nunca chegaram a ser feitas. Os anuários estatísticos, por exemplo, que deviam ser produzidos pelos próprios ministérios, simplesmente não existem em várias áreas”, afirmou o responsável. A ausência dessas informações tem impacto direto na formulação de políticas públicas e na avaliação dos resultados das ações do Governo.
Numa altura em que Angola enfrenta desafios sérios na transparência e eficácia da administração pública, o INE destaca o Banco Nacional de Angola (BNA) como um caso exemplar. “É a única instituição que tem mantido uma produção regular, organizada e útil de dados estatísticos, ao nível do que se espera de um órgão oficial”, reconheceu.
Apesar das críticas, o INE pretende virar a página. Joel Futi anunciou que o órgão está a desenvolver uma nova estratégia nacional para o período de 2026 a 2036, que pretende reestruturar o funcionamento do Sistema Estatístico Nacional, melhorar a produtividade e acelerar a divulgação de informação. “Queremos inundar o mercado com dados fiáveis. A informação estatística tem de estar presente em todas as áreas da vida nacional”, frisou.
Um dos passos já dados nesse sentido foi a integração do Ministério da Indústria e Comércio como órgão delegado do INE. A partir de agora, as estatísticas produzidas pelo ministério — sobretudo no domínio da indústria transformadora — passarão a ter estatuto de oficiais, reforçando a base de dados nacionais.
Com este novo arranque estratégico, o INE espera que outros ministérios sigam o exemplo. Mas a mensagem foi clara: sem dados confiáveis, não há planeamento eficaz — e sem colaboração institucional, não há como desenvolver políticas públicas sérias.