
Num momento em que milhares de famílias angolanas enfrentam dificuldades económicas crescentes, o Governo Provincial do Uíge autorizou a aquisição de dez novas viaturas, incluindo um automóvel de luxo avaliado em mais de 150 mil dólares, pago com fundos públicos.
O processo, inserido num leilão no valor total de 850 milhões de kwanzas, visa a compra de equipamentos para reforçar os serviços operacionais da província. Entre os meios a adquirir contam-se camiões basculantes e compactadores, pás carregadeiras, máquinas bobcat e carrinhas. Contudo, o destaque vai para uma viatura topo de gama cuja aquisição levantou questões quanto à prioridade dada pelo Governo aos gastos públicos.
Segundo o documento oficial consultado pelo Novo Jornal, os valores para esta compra provêm dos recursos ordinários do Tesouro Nacional e estão inscritos no Orçamento Geral do Estado para 2025, no programa de “operação e manutenção geral dos serviços”. A inclusão de uma viatura de luxo neste pacote levanta preocupações, especialmente numa altura em que há fortes apelos à contenção e à gestão racional dos recursos públicos.
Esta aquisição não é um caso isolado. Só nos primeiros meses de 2025, várias entidades públicas abriram concursos para renovar as suas frotas com viaturas de valor elevado. Na semana passada, o Governo do Icolo e Bengo lançou um leilão de 2,4 mil milhões de kwanzas para a compra de viaturas de apoio, e em Março, o Ministério das Finanças promoveu um leilão de 1,3 mil milhões de kwanzas para a aquisição de veículos destinados ao uso pessoal de altos quadros do Estado.
Também a Inspecção-Geral da Administração do Estado (IGAE) destinou 2,5 mil milhões de kwanzas para adquirir 33 novos veículos, incluindo um SUV de luxo. Estas compras juntam-se a uma já extensa frota do Estado, que, segundo o semanário Expansão, inclui mais de 700 carros de luxo com preços que variam entre 90 mil e 290 mil dólares. Estes veículos são habitualmente distribuídos entre ministros, deputados, governadores, magistrados e outros altos dirigentes.
“Por carros de luxo, entenda-se viaturas cujo custo mínimo ronda os 90 mil dólares, o que equivale a aproximadamente 45 milhões de kwanzas — valor suficiente para adquirir um apartamento no Kilamba”, destacava recentemente o Expansão, apontando a relação directa entre o cargo e o valor do veículo atribuído.
Num país onde as necessidades básicas, como saúde, habitação e educação, continuam a ser desafios diários para a maioria da população, a contínua aquisição de viaturas dispendiosas por instituições estatais reacende o debate sobre prioridades orçamentais e responsabilidade na gestão do erário público.