A escassez de livros escolares para os alunos do ensino primário em Angola tem sido um dos principais obstáculos para a melhoria da qualidade do ensino no país. Dados oficiais do Ministério da Educação indicam que mais de 10 milhões de alunos estão matriculados no presente ano letivo de 2024/2025 em estabelecimentos de ensino públicos, privados e comparticipados, dos quais cerca de 900 mil ingressaram pela primeira vez.
No entanto, o Ministério da Educação não distribuiu materiais didáticos para as províncias este ano, o que agrava ainda mais a situação. Uma fonte do Gabinete Provincial da Educação em Malanje, que preferiu não gravar entrevista, confirmou que o déficit de livros é um problema nacional, afetando todas as regiões.
Em Malanje, onde mais de 400 mil alunos estão matriculados no ensino geral, que inclui a educação pré-escolar, ensino primário e I e II ciclos do ensino secundário e técnico-profissional, a situação é especialmente crítica. Joana Vicente, professora da terceira classe em uma escola comparticipada, que atua há 20 anos como educadora, expressou as dificuldades enfrentadas devido à falta de recursos. “Isso tem nos criado muitos constrangimentos, visto que ao mandar a tarefa para o aluno precisamos de ter alguns materiais didáticos [os livros], que facilitam melhor o nosso trabalho”, afirmou. Ela acrescentou que “sem o material didático as coisas têm estado muito complicadas do nosso lado”.
Patrício Abel, chefe de secretaria da Escola Primária Nº 122 – Ngola Kiluanje, destacou que os materiais remanescentes dos anos letivos anteriores não são suficientes para atender à demanda atual de alunos e novos professores. “As últimas informações que temos é que os manuais vão sofrer alterações, realmente estamos no segundo mês [do ano letivo], e não temos uma informação credível que nos diga que vamos ter os livros daqui a pouco ao terminar o trimestre, ou coisa assim”, relatou.
Graça Manuel, secretário provincial do Sindicato dos Professores Angolanos (Sinprof), informou que os últimos manuais escolares foram entregues aos gabinetes provinciais da educação no ano letivo 2022/2023, mas em quantidades insuficientes. “Pelo tempo que já passou e a altura em que se fez a distribuição, outros devem estar degradados, e outros que foram ingressando não têm materiais, mas na verdade os materiais não são suficientes para todos”, reclamou.
Além da escassez, muitos materiais didáticos para o ensino primário, distribuídos gratuitamente, são difíceis de encontrar até no mercado informal. Uma encarregada de educação, que preferiu não se identificar, lembrou que esses materiais, além de serem escassos, muitas vezes contêm erros que nunca são corrigidos pelas editoras ou pelo Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação.
A falta de livros e outros materiais didáticos adequados não apenas compromete o aprendizado dos alunos, mas também impõe desafios significativos aos professores, que precisam adaptar suas metodologias para lidar com a falta de recursos essenciais.