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A Procuradoria-Geral da República (PGR) em Malanje abriu recentemente 52 processos-crime contra empresas contratadas para executar obras no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM). As empresas desapareceram após receberem os pagamentos, deixando projetos inacabados e a população local desamparada.
O caso, que mais parece um roteiro de filme, revelou um sistema profundamente corrompido, marcado por falta de rigor na fiscalização e suspeitas de tráfico de influências. A procuradora titular interina da província, Olívia António, expressou perplexidade diante da ousadia dos envolvidos.
EMPRESAS FANTASMAS E DESVIO DE FUNDOS
Muitas empresas contratadas não possuíam capacidade técnica ou financeira para realizar os projetos, mas, de forma “milagrosa”, venceram os concursos públicos. Após receberem os primeiros pagamentos, violaram os contratos e desapareceram, deixando claro que o objetivo era o enriquecimento ilícito com fundos públicos.
A situação expõe, mais uma vez, a fragilidade na fiscalização dos projetos públicos e levanta sérias suspeitas de corrupção dentro do governo provincial.
GOVERNADOR MARCOS NHUNGA SOB SUSPEITA
As atenções agora se voltam para o governador de Malanje, Marcos Alexandre Nhunga, acusado de facilitar o desvio de verbas ao assinar contratos com empresas sem credibilidade. A dimensão do escândalo torna difícil acreditar que tal esquema tenha ocorrido sem o envolvimento ou conivência de figuras de alto escalão.
O diretor do Gabinete Provincial dos Serviços Técnicos e Infraestruturas, Jorge Manuel, confirmou publicamente que essas empresas foram pagas mesmo sem realizar as obras e que fiscais atestaram falsamente a execução dos trabalhos. Essas declarações reforçam as suspeitas de manipulação deliberada para beneficiar conhecidos e aliados políticos do governador.
INSISTÊNCIA NA PERMANÊNCIA NO CARGO
Diante das denúncias, questiona-se por que Marcos Nhunga ainda não foi exonerado. Sua gestão em Malanje, assim como em Cabinda, tem sido marcada por incompetência e suspeitas de práticas ilícitas. Especula-se que sua proximidade com o Presidente da República esteja garantindo sua permanência no cargo, mesmo após um escândalo dessa magnitude.
O PIIM: PROMESSA TRANSFORMADA EM ESCÂNDALO
O PIIM foi criado para melhorar as condições de vida dos angolanos, mas em Malanje tornou-se um instrumento de enriquecimento ilícito para uma elite corrupta. A população, que já enfrenta carências em saúde, educação e infraestrutura, agora lida com a decepção de ver o programa ser desvirtuado.
JUSTIÇA E RESPONSABILIZAÇÃO
O combate à corrupção exige respostas rápidas e eficazes. A PGR deve continuar investigando o caso até às últimas consequências, responsabilizando criminalmente todos os envolvidos, desde os empreiteiros fraudulentos até os gestores públicos cúmplices.
A exoneração de Marcos Nhunga é vista como essencial para restaurar a credibilidade na gestão pública e sinalizar que a impunidade não será tolerada.
O caso de Malanje é um retrato do desafio enfrentado por Angola no combate à corrupção e má gestão. A população espera por justiça, transparência e responsabilidade, enquanto o governo central precisa agir de forma decisiva para evitar novos episódios de desvio de fundos públicos.
Por : Lucas Pedro — Jornalista e Jurista