João Lourenço, atual Presidente da República de Angola, teve seu nome associado a dois grandes projetos de investimento aprovados em 2009, totalizando mais de USD 160 milhões, enquanto ocupava a posição de Vice-Presidente da Assembleia Nacional. Na época, Lourenço, por meio da empresa JALC — Consultores e Prestação de Serviços Limited, participou de projetos no valor de USD 103 milhões para a criação da Companhia de Cervejas de Angola, S.A. e outros USD 60,6 milhões para a Sociedade Vidreira de Angola, ambos na província do Bengo.
A JALC, uma empresa de caráter familiar, gerida inicialmente por Custódia da Encarnação Dias dos Santos e depois por Cristina Lourenço, teve como sócio formal Lourenço. No entanto, a participação de João Lourenço e do então Secretário-Geral do MPLA, Dino Matross, nesse tipo de contrato com o Estado levanta dúvidas sobre um possível conflito de interesses, conforme estabelecido pela Lei Orgânica do Estatuto dos Deputados. De acordo com o artigo 20.º (C) da referida lei, parlamentares são impedidos de se envolver em negócios que incluam contratos com o Estado, o que poderia configurar uma violação das normas de conduta.
A controvérsia também entra em contraste com a postura adotada por João Lourenço desde que assumiu a presidência em 2017, posicionando-se como líder de uma campanha anticorrupção. Apesar das iniciativas para reformar e fortalecer a governança no país, críticos apontam para a existência de uma falta de transparência no tratamento de certos casos, suscitando discussões sobre a real imparcialidade no combate à corrupção.
Essa situação evidencia a complexidade do cenário político angolano, no qual figuras proeminentes podem estar simultaneamente envolvidas em esforços de combate à corrupção e em práticas que anteriormente teriam violado as leis de conduta ética para funcionários públicos.