
O encerramento do mercado da Mabunda, uma das principais fontes de peixe em Luanda, mergulhou centenas de vendedores e armadores em um cenário de desespero e incerteza. Muitos viram-se sem alternativa para sustentar suas famílias, após a medida anunciada no dia 28 de fevereiro, que recomendava a transferência das atividades para outros mercados.
No entanto, a desorganização marcou o processo. Vendedores foram encaminhados à Praia Amélia, mas, um dia depois, a Polícia Nacional impediu as vendas, alegando falta de condições de higiene, deixando os comerciantes sem rumo. Entre os afetados está Alberto Dias, de 32 anos, pai de três filhos, que relata dificuldades em alimentar a família após anos dependendo da pesca: *”O governo vem em cima de nós, até das senhoras mais velhas”*.
A notícia do encerramento para obras caiu como um choque para os vendedores, que alegam que deveriam ter sido avisados com antecedência para se prepararem. *”Disseram que a limpeza duraria dois dias, mas agora falam em seis meses”*, denuncia Cipriano Wipi, que antes conseguia levar até 5.000 kwanzas para casa, mas agora passa dias sem ganhar nada.
Isabel Soares, vendedora há 39 anos, sustenta sozinha três filhos, incluindo uma estudante universitária e um filho autista cuja mensalidade custa 50.000 kwanzas. Com o mercado fechado, não sabe como arcar com essas despesas. Ela também questiona a gestão da Administração, que cobrava taxas diárias, mas não garantia a limpeza adequada do espaço.
A falta de um local alternativo adequado agrava o drama das famílias que dependiam exclusivamente do mercado da Mabunda. Enquanto isso, o futuro desses trabalhadores segue incerto, com fome e dívidas aumentando a cada dia.