
Centenas de negócios enfrentam a insolvência e milhares de empregos estão a ser perdidos, enquanto o Estado acumula dívidas com prestadores de serviços.
A crise financeira está a atingir com força as empresas angolanas que prestam serviços ao Estado. Em várias províncias do país, como Cuanza Norte, Malanje e Icolo e Bengo, centenas de empresas estão a encerrar portas por falta de pagamento do governo, situação que está a deixar milhares de jovens sem emprego.
Manuel Gonga, pequeno empresário que atua desde 2015 nos setores da assistência hospitalar, fornecimento de medicamentos e manutenção de viaturas, é um dos afetados. Depois de mais de um ano sem receber pelos serviços prestados a instituições estatais, viu-se forçado a despedir a maior parte dos seus cerca de 50 funcionários. Hoje, mantém apenas 12.
“Fechei porque o governo não paga. E ainda somos pressionados pela AGT, que só quer aplicar multas. A maioria de nós já desistiu. O que é que vão cobrar de uma empresa que já fechou?”, desabafa.
A situação não afeta apenas o setor privado. Segundo Miguel Tete Neto, coordenador das organizações da sociedade civil no Uíge, até escolas públicas estão a sofrer com a falta de verbas. “Os fornecedores desapareceram. Não há resmas, não há material. São os pais que estão a comprar folhas de A4 para os filhos fazerem provas, apesar de o ensino ser dito gratuito”, denuncia.
Tanto Manuel Gonga quanto Miguel Neto apontam que, apesar da crise generalizada, algumas empresas com ligações privilegiadas continuam a ser pagas. “Só recebem os escolhidos, os amigos do sistema”, afirmam.
O economista Carlos Rosado de Carvalho, da Universidade Católica de Angola, confirma que o problema tem raízes mais profundas. “Desde que Angola assinou com o FMI, uma das exigências foi o pagamento das dívidas atrasadas. Mas o que vemos é o agravamento do problema, com faturas acumuladas e o setor privado à beira do colapso”, explica.