A desvalorização do kwanza causou um aumento significativo no rácio da dívida pública de Angola em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 30 pontos percentuais desde o início do ano, alcançando mais de 90%. Segundo o gabinete de estudos económicos do Banco Fomento Angola (BFA), a dívida pública é estimada em cerca de 91,8% do PIB, um impacto direto da perda de valor da moeda nacional.
Os dados do Banco Nacional de Angola (BNA) indicam que a dívida externa se situou em aproximadamente 50,3 mil milhões de dólares (46,9 mil milhões de euros) no segundo trimestre de 2024, representando uma redução de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) em relação ao ano anterior, sendo este o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2020. No entanto, a dívida total de Angola é estimada em cerca de 65,5 mil milhões de dólares (60 mil milhões de euros), refletindo uma queda significativa devido à depreciação do kwanza e à diminuição da dívida externa.
A desvalorização da moeda, especialmente a partir do segundo trimestre, coincidiu com a implementação da retirada parcial dos subsídios aos combustíveis, o que resultou em pagamentos mais altos da dívida externa. A análise do BFA ainda destaca que a dívida a entidades chinesas representa 38% do total da dívida pública externa, embora esteja em níveis mínimos desde 2016. Por outro lado, a dívida a entidades multilaterais atingiu um máximo histórico de 17,5% do total da dívida externa, evidenciando os esforços do governo para diversificar as fontes de financiamento.
A análise do BFA é divulgada poucos dias após a primeira avaliação do conselho executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o programa de assistência financeira, que revisou em baixa as previsões de crescimento da economia angolana de 3,5% para 0,9% este ano. Este ajuste se deve ao declínio do setor petrolífero, que registrou uma queda de 6,1%, não compensada pelo crescimento do setor não petrolífero, que foi de 3,4%.
O FMI prevê ainda que o rácio da dívida pública sobre o PIB, um indicador chave para avaliar a sustentabilidade da dívida, aumente de 65,2% em 2022 para 83,2% em 2024, permanecendo acima da média de 60% dos países da África subsaariana. O conselho executivo do FMI ressalta que a recuperação econômica de Angola entre 2021 e 2022, impulsionada por reformas e preços do petróleo, enfrenta agora desafios significativos devido à queda da produção petrolífera.