
Numa decisão carregada de simbolismo e crítica histórica, o deputado Alcides Sakala, figura de proa da UNITA e presidente da Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Nacional, recusou a medalha comemorativa dos 50 anos de Independência de Angola, atribuída pelo Presidente da República, João Lourenço. Em carta dirigida ao Chefe de Estado, o parlamentar justificou a sua recusa com a “exclusão injustificável” de duas figuras incontornáveis da luta de libertação nacional: Holden Roberto e Jonas Savimbi.
A atitude do veterano político da oposição, tornada pública esta quinta-feira, não se limitou a um gesto de desagrado pessoal. Sakala declarou que não estará presente na cerimónia oficial nem se fará representar, sublinhando que a sua decisão resulta de um exercício de consciência histórica e política. A carta, divulgada pelo jornal O País, denuncia aquilo que classifica como “omissões graves” no processo de reconhecimento da memória nacional.
“Persistem lacunas na narrativa oficial da libertação de Angola”, assinala Alcides Sakala, lamentando que se continue a marginalizar a contribuição de líderes como Holden Roberto, fundador da FNLA, e Jonas Malheiro Savimbi, líder histórico da UNITA, ambos protagonistas de destaque na luta contra o colonialismo português e no processo que levou à independência do país em 1975.
A recusa do deputado surge num momento de crescente debate sobre a reconciliação nacional e a forma como o passado de Angola deve ser recordado. A ausência destas duas figuras na lista dos homenageados com a medalha dos 50 anos de independência é interpretada, por sectores da oposição e da sociedade civil, como um reflexo de uma visão parcial da história nacional, ainda muito marcada por divisões políticas do pós-independência e do longo conflito civil.
Embora reconhecendo o gesto do Executivo, Sakala deixa claro que não pode compactuar com aquilo que considera ser um “silêncio institucional” perante contributos históricos determinantes. A sua tomada de posição poderá abrir caminho para um debate mais profundo sobre o papel da memória colectiva na construção da unidade nacional e na consolidação da democracia.
Até ao momento, não houve resposta oficial da Presidência da República sobre a carta de Alcides Sakala. No entanto, este acto de recusa pública promete agitar os bastidores políticos e reacender a discussão sobre a necessidade de um reconhecimento mais inclusivo e plural do percurso de Angola enquanto nação independente.