Apesar das promessas oficiais de combate às assimetrias regionais e a garantia de que “a vida se faz nos municípios”, os dados recentes do Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde (IIMS) 2023-2024, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam um retrocesso significativo nos indicadores de saúde, vacinação e nutrição infantil. O relatório aponta para uma diminuição no acompanhamento especializado de mulheres grávidas, uma queda no número de crianças completamente vacinadas e um aumento nos casos de desnutrição crónica.
A pesquisa destaca que as dificuldades enfrentadas no meio rural são exacerbadas pela falta de recursos e políticas públicas inadequadas. O acompanhamento pré-natal, por exemplo, caiu de 81% para 77% entre as mulheres, enquanto a vacinação completa das crianças diminuiu de 31% para 29%. Além disso, os casos de desnutrição crónica aumentaram de 38% para 40% entre crianças de até 5 anos.
Quando se analisam os dados entre o meio rural e o urbano, a disparidade é alarmante. O acesso a cuidados pré-natais de profissionais qualificados é de 89,9% nas áreas urbanas, mas apenas 62,9% nas rurais, uma diferença de 27 pontos percentuais. Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), explica que a pobreza é mais severa no meio rural, onde há menor acesso a serviços essenciais e menos investimento público e privado.
Os dados de vacinação refletem uma realidade similar. Enquanto 88,1% da população urbana recebeu a vacina BCG, apenas 45,3% dos habitantes rurais tiveram acesso. A discrepância é evidente também nas vacinas contra hepatite B (79,4% nas áreas urbanas versus 32,0% nas rurais) e febre amarela (61,7% contra 22,2%).
Calundungo ressalta que essa desigualdade regional resulta em uma maior incidência de pobreza nas zonas rurais, afetando especialmente mulheres e crianças, que possuem menos poder de decisão tanto nas famílias quanto nas comunidades. Ele destaca que são esses grupos os mais impactados pela pobreza e subdesenvolvimento.
Em contraste, o relatório também aponta uma evolução positiva em relação à Infecção Respiratória Aguda (IRA), uma das principais causas de mortalidade infantil. De acordo com o IIMS 2023-2024, 65% das crianças menores de 5 anos apresentaram sintomas de IRA, e 69% dos meninos e 62% das meninas afetadas receberam aconselhamento ou tratamento em unidades de saúde. Comparando com dados de 2015-2016, houve um aumento de 15 pontos percentuais no acesso a cuidados de saúde para crianças com sintomas de IRA.
Esses dados ressaltam a necessidade urgente de ações efetivas para melhorar as condições de vida no meio rural e atender às necessidades de saúde, vacinação e nutrição das populações mais vulneráveis.