O crédito malparado na banca angolana aumentou 266,2 mil milhões de kwanzas (Kz) no primeiro semestre de 2024, em comparação com dezembro de 2023. Esse aumento é resultado das taxas de juro mais elevadas, fruto do aperto da política monetária e da corrida dos bancos ao mercado interbancário para garantir liquidez em moeda estrangeira.
Em junho de 2024, o crédito malparado representava 17,3% do crédito bruto da banca angolana, uma subida de 1,6 pontos percentuais face aos 15,1% registados em dezembro de 2023. De acordo com cálculos do Expansão baseados nos Indicadores de Solidez Financeira do Sector Bancário do Banco Nacional de Angola (BNA), dos 8,4 biliões Kz de crédito bruto da banca em junho, quase 1,5 biliões Kz (cerca de 1,702 mil milhões USD) estavam em incumprimento.
A subida das taxas de juro no primeiro semestre de 2024, associada à corrida dos bancos para garantir liquidez no mercado interbancário e à dificuldade em obter divisas no mercado cambial, aumentou a pressão sobre as famílias e empresas para cumprir com as suas obrigações financeiras. Este cenário desafiador é agravado pela elevada taxa de inflação e pela contínua depreciação do kwanza.
O crédito malparado, também conhecido como crédito vencido, ocorre quando um devedor não cumpre com suas obrigações de pagamento conforme estabelecido no contrato de empréstimo, resultando em atrasos ou falta de pagamento.
No final de 2023, o crédito bruto bancário era de 7,8 biliões Kz, com uma taxa de malparado de 15,1%, o que equivalia a pouco menos de 1,2 biliões Kz em incumprimento. Em dólares, os 1,5 biliões Kz de malparado em junho de 2024 equivalem a 1,702 mil milhões USD, representando um aumento de 270 milhões USD face a dezembro de 2023. Por cada 1.000 Kz de crédito bruto, cerca de 173 Kz estavam malparados em junho.
Embora o cenário atual esteja longe dos valores registados em junho de 2019, quando o malparado representava 34,5% do crédito bruto da banca, o nível de malparado continua preocupante. Em 2019, com um total de crédito bruto de 4,9 biliões Kz e uma taxa de câmbio da época, o malparado equivalia a 5.000 milhões USD. Após a Recredit assumir o crédito em incumprimento do Banco de Poupança e Crédito (BPC) em 2020, o malparado baixou substancialmente para 2.026 milhões USD, refletindo o peso significativo do BPC no agregado do crédito malparado da banca.
Especialistas, como o economista Heitor Carvalho, consideram o nível de malparado na economia preocupante, refletindo o estado das empresas e o ambiente de negócios. “Sem empresas, não há economia”, afirmou Carvalho, destacando a relação entre malparado, política comercial, inflação, depreciação do kwanza e deterioração do ambiente de negócios.
O economista e consultor financeiro Alberto Vunge também argumenta que as famílias e empresas ainda não saíram da situação de aperto em que se encontram. “A volatilidade das variáveis macroeconômicas, as incertezas nas operações das empresas, a perda do poder de compra das famílias e a falta de sustentabilidade do emprego aumentam os riscos de crédito para o subsistema financeiro bancário”, apontou Vunge.