
Shiyu Li alega ter adquirido o terreno de forma legal em 2023, com o objectivo de instalar uma pequena indústria de transformação de café. Segundo o investidor, a compra foi realizada pelo Mateus Teixeira Secuba, então colaborador da Administração Municipal de Icolo e Bengo, que atuava como técnico nos processos de loteamento.
Mateus Secuba confirmou a transação, explicando que o terreno lhe foi atribuído em 2021, durante um processo de urbanização conduzido sob a gestão da ex-administradora Humberta da Paixão.
No entanto, o cenário mudou quando uma comitiva ordenou a demolição das estruturas em 6 de maio de 2025. De acordo com o denunciante, a ordem teria partido da ex-administradora de Icolo e Bengo, Isabel Nicolau Kudiqueba dos Santos, atualmente administradora do Cabiri. A presença do Chefe da Fiscalização da Administração Municipal de Cabiri no local, no dia da demolição, levantou suspeitas, uma vez que a área em questão não está sob a jurisdição daquela administração.
Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o chefe da fiscalização municipal de Cabiri para ouvir o seu lado. Ele esclareceu que esteve no local como arguido e que não levou nenhuma equipe para realizar a demolição. De acordo com ele, seria ilógico que, trabalhando em um município, ordenasse a demolição em outro.
Isabel Kudiqueba dos Santos afirma que os documentos apresentados por Shiyu Li são falsificados e que o terreno faz parte de uma área maior de cerca de nove hectares.
No entanto, o denunciante alega que Isabel Kudiqueba dos Santos afirmou que toda a área, incluindo os sete hectares adicionais, pertence a ela. Segundo o denunciante, Isabel Kudiqueba dos Santos teria dito ao investidor chinês que, para conseguir vedar os dois hectares adquiridos, ele deveria primeiro vedar os sete hectares restantes, pois toda a área seria de sua propriedade. O investidor rejeitou essa exigência.
“Fui à Administração, paguei taxas, entreguei papéis e fiz tudo dentro da legalidade. Se houve má conduta de algum funcionário, não posso ser responsabilizado por isso. Estou aqui para investir, não para ser enganado”, declarou Shiyu Li.
Isabel Kudiqueba dos Santos, por sua vez, reafirmou sua posição, alegando que os documentos são falsos e que, ao assumir o cargo, o terreno estava inativo. Ela esclareceu que os terrenos concedidos pelo Estado têm um prazo de até três anos para início de obras, sob pena de serem revertidos.
A ex-administradora também mencionou que, ao assumir o cargo, verificou que o único terreno registrado na base de dados da administração, naquela região, pertencia a um cidadão identificado como “Pólo”.
Ela também destacou que o carimbo e assinatura da licença apresentada por Shiyu Li são falsos, apresentando um carimbo do registo em vez do carimbo da administração. Contudo, uma verificação da nossa equipa junto ao notário de Icolo e Bengo revelou que o carimbo de Li é a óleo, enquanto o notarial possui selo branco, contradizendo a versão da Administradora Isabel Kudiqueba dos Santos.
O investidor chinês questiona o contínuo envolvimento de Isabel Kudiqueba dos Santos no caso, mesmo após deixar o cargo de administradora de Icolo e Bengo. Ele também alega que o terreno foi atribuído a Isabel Kudiqueba dos Santos por Orlando Mabanza, ex-administrador do Bela Vista. Segundo o denunciante, essa atribuição ocorreu de forma irregular, pois Orlando Mabanza já não exercia o cargo quando Isabel Kudiqueba dos Santos assumiu.
Segundo o denunciante, foi Mateus Secuba quem informou que o terreno foi concedido a Isabel Kudiqueba por Mabanza. Em uma ocasião, quando Mateus tentou dialogar com Isabel Kudiqueba e a atual administração, teria sido ignorado. Isabel Kudiqueba dos Santos, em entrevista, negou essa versão e afirmou que está a agir com base na lei.
A nossa equipa entro em contacto com todos os administradores envolvidos e disseram que os Documentos são falsos.
Em contacto com a nossa equipa, o atual Administrador Municipal de Bom Jesus, Francisco Tchipilica, informou que não possui informações oficiais sobre o caso.
O caso segue sem uma resolução clara e aguarda a intervenção das autoridades competentes para garantir uma solução justa e transparente, respeitando os preceitos legais vigentes.
O próprio governador provincial do Icolo e Bengo, Auzílio Jacob, reconheceu publicamente que há figuras ligadas à PGR e ao SIC envolvidas em esquemas de invasão de terrenos, usando o nome das instituições para manchar a imagem do Estado. O governante denunciou ainda a proteção interna que alguns desses agentes recebem, mesmo quando os factos estão comprovados.