
Um ano após liderar o golpe de Estado que pôs fim a mais de cinco décadas de domínio da família Bongo, o general Brice Oligui Nguema é apontado pelas sondagens como o candidato mais forte nas eleições presidenciais marcadas para este sábado, 12 de Abril, no Gabão. A votação poderá formalizar a sua permanência no poder, agora sob uma moldura constitucional legitimada por reformas promovidas pelo próprio regime de transição.
A sua ascensão ao poder, em Agosto de 2023, marcou um ponto de viragem na história política do país. Na altura, o então Presidente Ali Bongo Ondimba foi deposto no mesmo dia em que se declaravam os resultados oficiais das eleições, considerados fraudulentos pelos militares. Oligui Nguema, seu primo e líder da Guarda Republicana, assumiu o controlo como presidente interino, prometendo restaurar a ordem e reformar o sistema político.
Durante o seu governo provisório, Oligui Nguema conduziu uma revisão da Constituição e impôs um novo código eleitoral, medidas que, segundo observadores, consolidaram a sua posição no poder. As alterações legislativas, contudo, foram alvo de críticas por parte de sectores da oposição e da sociedade civil, que denunciam obstáculos à participação política plena e alegada limitação das liberdades democráticas.
“O processo de transição não foi totalmente inclusivo”, afirmou o analista Eurico Gonçalves, em declarações à Rádio Correio da Kianda. “Embora as sondagens o coloquem à frente, há uma perceção de falta de abertura política e um receio generalizado de que a eleição apenas legitime uma tomada de poder que nasceu de um golpe”.
Analistas políticos, como o especialista em relações internacionais Adalberto Malú, apontam que um dos principais desafios de Brice Oligui, caso seja eleito, será demonstrar capacidade de governação democrática e promover coesão nacional num país historicamente marcado por desigualdades sociais profundas.
“O novo governo terá de provar que é mais do que uma continuidade do regime militar”, sublinha Malú. “Será crucial garantir justiça social, combater a pobreza e evitar a perpetuação da exclusão política de outros grupos”.
Outro ponto de tensão apontado por observadores é a recente introdução de restrições eleitorais. O novo código eleitoral impôs, por exemplo, um limite de idade de 70 anos para candidatos à presidência — uma medida que impediu figuras como Albert Ondo Ossa, principal adversário de Ali Bongo nas eleições anteriores, de concorrer ao pleito de sábado.
Com estas eleições, o Gabão encerra formalmente a era Bongo, iniciada em 1967 com Omar Bongo e continuada pelo seu filho, Ali Bongo, até à sua deposição em 2023. O país, rico em recursos naturais, mas ainda marcado por altos índices de pobreza, entra agora numa nova fase da sua história política, na qual se testará o verdadeiro alcance das reformas pós-golpe.
O resultado das urnas, e a forma como o processo será conduzido, serão determinantes para o futuro da democracia no Gabão e para a credibilidade de Brice Oligui Nguema enquanto líder eleito — ou apenas mais um militar no poder.