
O anúncio das novas tarifas de 32% sobre exportações para os EUA, feito por Donald Trump, caiu como uma verdadeira bomba atómica nos mercados financeiros, gerando ondas de choque que já se fazem sentir em países altamente dependentes da exportação de commodities, como é o caso de Angola.
Apesar da medida não ter impacto direto sobre as exportações angolanas, os efeitos colaterais são alarmantes: o barril de petróleo já está a ser cotado abaixo dos 60 USD, bem longe dos 70 USD previstos no Orçamento Geral do Estado (OGE) 2025. E cada 5 USD abaixo do valor de referência duplica o défice público, podendo este atingir até 3,3% do PIB.
Sem receitas suficientes, o Governo poderá ser obrigado a aumentar o endividamento ou cortar drasticamente nas despesas, incluindo nas chamadas “gorduras do Estado” – um discurso antigo, mas com pouca ação concreta até hoje.
A pressão é ainda maior porque cerca de 49% do orçamento vai para pagar dívidas**, e 42% das receitas previstas dependem de financiamentos internos e externos**. Mas com o clima de incerteza nos mercados, garantir empréstimos com juros sustentáveis tornou-se muito mais difícil. As yields dos eurobonds angolanos já ultrapassam os 14%**, o que afasta investidores e pode deixar Angola fora dos mercados internacionais de dívida.
A emissão de 3 mil milhões USD em eurobonds, anunciada pela ministra Vera Daves, está agora em risco. Para o economista Heitor Carvalho, do CINVESTEC, é altura de parar o processo e iniciar a revisão do OGE. “Mesmo que tudo volte ao normal, os danos já estão feitos e os impactos serão brutais, principalmente para economias frágeis como a nossa”, alerta.
Além da pressão financeira, há ainda o risco de **retracção no investimento estrangeiro**, travando o processo de **diversificação económica** e a **produção petrolífera**. Com investidores a fugir para ativos mais seguros, como o ouro, Angola pode voltar a enfrentar tempos difíceis se não houver uma resposta estratégica imediata.
O Governo angolano já informou os EUA que pretende negociar, tal como outros países que foram também atingidos pelas tarifas. Mas o relógio corre, e os impactos já começam a sentir-se na economia real.