
A situação dos bolseiros internos em Angola se agrava, com os estudantes sem receber os subsídios há quase cinco meses, desde o início do ano académico em outubro. António Armando, presidente da Associação dos Estudantes e Ex-Bolseiros Internos do Ensino Superior de Angola (AEEBISA), levantou preocupações sobre possíveis desvios de fundos no Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE).
Em declarações à Lusa, Armando expressou a indignação dos estudantes e a intenção de promover manifestações para exigir a reposição dos pagamentos. “As manifestações têm sido feitas, mas não têm surtido efeito, pois as autoridades permanecem em silêncio”, afirmou.
O presidente da AEEBISA destacou a “desconfiança” em relação à gestão financeira do INAGBE. “Há indícios de desvio de verbas, pois os atrasos não se justificam”, disse, lembrando que os subsídios são parte do Orçamento Geral do Estado e deveriam ser pagos atempadamente.
Os bolseiros, especialmente aqueles em instituições privadas de ensino superior, enfrentam sérias dificuldades, como a impossibilidade de realizar exames ou consultar notas. O portal Maka Angola, gerido pelo ativista Rafael Marques, revelou um “buraco” de mais de 21 mil milhões de kwanzas no INAGBE, relacionado a transferências e pagamentos sem justificativos em 2022.
Além disso, foram identificados 101 bolseiros que recebem subsídios, mas que não constam nas listas das universidades, levantando mais suspeitas sobre a gestão do INAGBE. Armando criticou a falta de comunicação da entidade, que não explicou os motivos dos atrasos, que ocorrem com frequência.
Com o atual atraso de cinco meses, muitos bolseiros enfrentam “enormes constrangimentos”, alguns deles sem receber há um ano. Os subsídios são essenciais não apenas para o pagamento das propinas, mas também para cobrir outros encargos acadêmicos.
O dirigente associativo apelou à intervenção da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Inspeção Geral da Administração do Estado (IGAE) para investigar a situação. A Lusa tentou contato com o INAGBE, mas não obteve resposta do departamento responsável nem do diretor geral da instituição.
A situação dos bolseiros representa um desafio significativo para a educação em Angola, evidenciando a necessidade urgente de transparência e responsabilidade na gestão dos recursos destinados ao ensino superior.