
Enquanto milhares de angolanos enfrentam dificuldades no acesso ao crédito e a economia dá sinais de estagnação, os bancos comerciais registaram um início de ano extraordinariamente lucrativo. Os dados mais recentes revelam que, só no primeiro trimestre de 2025, os 21 bancos comerciais que operam em Angola arrecadaram lucros no valor de 302,2 mil milhões de kwanzas — um crescimento de 8% face ao mesmo período do ano anterior.
Segundo cálculos com base nos balancetes trimestrais das instituições financeiras, o aumento de mais de 22 mil milhões de kwanzas em relação a 2024 foi impulsionado principalmente pelos ganhos provenientes da dívida pública, o activo preferencial da banca nacional. Contudo, quando os valores são convertidos para dólares, considerando as taxas de câmbio de cada período, observa-se uma ligeira queda de 1% nos lucros totais — passando de 336,1 milhões para 331,3 milhões de dólares.
Este resultado confirma uma tendência já conhecida: os bancos continuam a privilegiar investimentos em títulos do Estado e depósitos junto do Banco Nacional de Angola (BNA), em detrimento do financiamento à economia produtiva. De acordo com os dados, os investimentos em dívida pública — que já representam um terço do total de activos bancários — aumentaram 8% e situam-se agora nos 7,9 biliões de kwanzas. As aplicações em bancos centrais e instituições similares também subiram 15%, totalizando 3,4 biliões de kwanzas.
O economista Alberto Vunge explica que esta preferência é sintomática de um sistema financeiro que joga pelo seguro. “A dívida pública continua a ser o porto seguro da banca. Enquanto houver emissão por parte do Estado, os bancos vão continuar a alocar ali os seus recursos”, afirma. Vunge considera ainda que esta realidade revela uma dependência excessiva do sistema financeiro em relação ao Estado, que inibe a diversificação da economia e as oportunidades no mercado de capitais.
Outra razão apontada pelos especialistas é o elevado índice de crédito malparado, que no final de 2024 rondava os 19,2% do total de empréstimos concedidos. A crescente exigência em matéria de requisitos de capital para assumir riscos, imposta pelas reformas do BNA, também contribui para uma política bancária conservadora.
Entre os bancos, o destaque vai para o BAI, que voltou a liderar o sector ao apresentar lucros de 101,6 mil milhões de kwanzas — quase o triplo dos resultados do mesmo período do ano passado. Logo a seguir, surge o BFA com um aumento de 31%, alcançando 64,4 mil milhões, e o Standard Bank com 33,6 mil milhões.
Curiosamente, o Banco Económico — que há um ano liderava em lucros e terminou 2024 com prejuízos — voltou a figurar entre os mais lucrativos, apesar de uma quebra de 77% nos seus resultados. Ainda assim, arrecadou 21,2 mil milhões de kwanzas. O Keve completa o grupo dos cinco bancos mais lucrativos, com um total de 20,5 mil milhões.
Estes cinco bancos juntos representam cerca de 80% dos lucros totais do sector bancário angolano no primeiro trimestre de 2025 — uma concentração que levanta questões sobre a equidade e a sustentabilidade do sistema financeiro nacional.