O aumento de doentes mentais nos hospitais psiquiátricos de Angola deve ser visto com atenção, defendem especialistas ouvidos pela Voz da América na cidade do Lubango, nesta quinta-feira, 10, dia mundialmente dedicado à saúde mental.
Na província da Huíla, o hospital psiquiátrico local atendeu no primeiro semestre deste ano mais de seis mil pacientes, alguns deles oriundos das províncias do Huambo, Bié, Benguela, Cunene e Cuando Cubango. Os números, na sua maioria de jovens, são considerados elevados.
Os casos de esquizofrenia, transtornos delirantes, de humor e transtornos causados pelo consumo de álcool e outras drogas são os mais frequentes. Apesar de o tratamento ser gratuito, o diretor-geral em exercício do Hospital Psiquiátrico do Lubango, Idezibal Aldino, alerta que o elevado número de casos pressiona os serviços de saúde. “Isso faz com que tenhamos mais preocupação dentro daquilo que são os insumos necessários para o atendimento, porque sabemos nós que todo o atendimento a nível do hospital psiquiátrico é gratuito isso de uma ou de outra forma faz com que o esforço para termos esses elementos acaba por ser bem maior”, explica Aldino.
Há anos que aquele estabelecimento regista casos de abandono de doentes por parte dos seus familiares, um comportamento descrito pelo também especialista em saúde mental como alarmante e que deve levar a sociedade a refletir. A psicóloga Júlia Mendes Paulo defende políticas públicas para melhorar a condição de vida das famílias, já que o aumento de casos de doenças mentais está associado, entre outros fatores, à extrema pobreza. “Um dos fatores que podemos falar de forma muito geral e global é a economia do país a extrema pobreza. As pessoas vivem tentando buscar soluções para sobreviver e isto acaba de criar um estresse psicológico e emocional para as famílias e para a comunidade. Existem outros fatores também que são de ordem social, pessoal e individual”, aponta Paulo.
O sociólogo Laurindo Bringo alerta que os doentes mentais são pessoas que devem ter todos os seus direitos assegurados pelo estado, para que estejam a salvo de males como o estigma. A integração social destas pessoas após a sua recuperação é fundamental, diz Laurindo Bringo. “Este apoio tem que ser multifacético desde a perspetiva psicossocial e até a económica é importante garantir que os doentes não vagueiem pelas ruas sob pena de serem até atropelados e criar dificuldades no trânsito, é importante que o estado tome as suas responsabilidades”, sugere Bringo.
Mais de 35 mil pacientes foram atendidos no hospital psiquiátrico da Huíla nos últimos quatro anos, um número que, segundo o diretor-geral, tende a aumentar. O Governo afirma que em seu programa de saúde mental, constam metas visando o aumento da disponibilidade dos serviços de saúde mental e que até 2022, 50 por cento das unidades sanitárias municipais já dispunham dos serviços integrados de saúde mental.