
Apesar do crescimento económico registado em 2024, a maioria dos angolanos em idade activa continua a sobreviver de biscates e actividades informais. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), analisados pelo jornal Expansão, apenas 14 em cada 100 pessoas em idade activa no país possuem um emprego formal, com contrato e acesso a benefícios sociais.
No final de 2024, Angola contava com 18.083.432 pessoas em idade activa para trabalhar. Destas, 12.582.279 tinham algum tipo de ocupação e 5.501.153 estavam desempregadas, um aumento de 35.862 face a 2023. Porém, entre os que trabalham, 10.018.549 exercem actividades informais, enquanto apenas 2.563.730 estão inseridos no mercado formal, o que representa apenas 14% da força de trabalho potencial com acesso a direitos laborais, estabilidade e segurança social.
Os dados revelam ainda que em cada 4 empregos criados em 2024, apenas 1 foi formal, e os outros 3 surgiram no sector informal. Dos 889.641 novos empregos registados no ano passado, 607.367 (68%) foram informais e 282.274 (32%) foram formais.
Apesar de ser o ano com maior criação de empregos formais dos últimos seis anos, 2024 não conseguiu ainda compensar a perda de 466.980 empregos formais em 2020, no auge da pandemia da Covid-19. Mesmo somando os bons resultados de 2022 (180.150 empregos formais criados), o défice continua preocupante.
O critério adoptado pelo INE para definir “empregado” também levanta dúvidas. Basta ter trabalhado pelo menos uma hora na semana anterior ao inquérito, com ou sem remuneração, para ser contabilizado como trabalhador — algo que especialistas consideram inadequado para o contexto angolano, por mascarar a gravidade real do desemprego.
Para os analistas, os números revelam um retrato preocupante da precariedade laboral em Angola, onde mais de 55% da população em idade activa sobrevive na informalidade e 30% permanece completamente desempregada. O desafio agora é transformar o crescimento económico em oportunidades reais e sustentáveis para os milhões de angolanos que ainda vivem sem garantias mínimas de trabalho digno.