
A realidade financeira da maioria dos angolanos continua marcada pela informalidade, segundo o mais recente inquérito da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira (ENIF) 2025-2027. O documento revela que 76% da população não faz qualquer tipo de poupança e apenas 7% utiliza bancos ou instituições financeiras formais para esse fim. Os restantes 17% preferem guardar dinheiro em casa ou recorrer a mecanismos informais como a tradicional kixikila ou caixas comunitárias.
O estudo aponta que o sistema financeiro nacional ainda oferece poucas alternativas de investimento, com destaque apenas para cinco produtos no mercado de capitais — todos com juros reais negativos quando se desconta a inflação. Como resultado, muitos angolanos optam por fazer poupanças em moeda estrangeira ou investir em pequenos negócios próprios.
Entre os que conseguem poupar, os principais objetivos são: reserva de emergência (67%), educação (20%), habitação (18%) e investimento em negócios (17%). No entanto, cerca de 73% dos adultos guardam o dinheiro em casa, longe de qualquer proteção financeira.
No que diz respeito ao acesso ao crédito, a situação é ainda mais preocupante: 88% da população adulta não obtém crédito de forma alguma. Apenas 2,1% recorrem a instituições financeiras, enquanto 13% buscam ajuda de credores informais, familiares ou amigos. A escassa procura junto de instituições não bancárias (0,1%) reflete a falta de confiança e de alternativas viáveis no setor.
O mercado segurador também mostra fragilidade: 95% da população não possui qualquer tipo de seguro. A falta de conhecimento (35%) e a perceção de alto custo (20%) são os principais motivos apontados. Mesmo os seguros obrigatórios, como o de responsabilidade civil automóvel ou acidentes de trabalho, sofrem com fiscalização ineficaz, conforme alerta o relatório.
Em suma, o baixo rendimento da população, a escassez de opções seguras e a falta de educação financeira continuam a travar o desenvolvimento de uma cultura de poupança e proteção financeira no país.