
Enquanto os olhos do mundo se mantêm fixos na guerra da Ucrânia e no conflito Israel–Palestina, a Nigéria continua a ser palco de um massacre silencioso. Grupos terroristas como o Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico na Província da África Ocidental) estão a semear o terror no norte do país, com mais de 100 soldados e 200 civis assassinados em apenas cinco semanas, segundo um relatório recente da Nextier SPD.
A vila de Malam Karanti, no estado de Borno, foi novamente alvo de horror: 17 pescadores e agricultores foram mortos por alegadamente colaborarem com o grupo rival ISWAP. Este cenário repete-se em várias localidades, com agricultores executados, jovens raptados para alistamento forçado, mulheres violadas e assassinadas, ou transformadas em “esposas” dos combatentes.
Mas não é só o sangue que escorre — é também o silêncio da comunidade internacional. “As mortes em África parecem não ter o mesmo peso mediático que as do Médio Oriente ou da Europa”, denunciam analistas africanos. De facto, enquanto os grandes meios de comunicação globais actualizam ao minuto os conflitos no hemisfério norte, a tragédia nigeriana não entra sequer na pauta noticiosa de muitas redacções internacionais.
O relatório “Repensando a estratégia de contrainsurgência da Nigéria”, assinado pelos académicos Ndu Nwokolo e Chibuike Njoku, alerta para a escalada da violência e para o fracasso da resposta militar isolada. O estudo sublinha a necessidade urgente de reformas de governação, inclusão social e revitalização económica, uma vez que a pobreza extrema, o desemprego juvenil e o colapso da educação continuam a alimentar o recrutamento terrorista.
De Novembro de 2024 a Abril de 2025, mais de 252 ataques terroristas foram registados na Nigéria, incluindo o uso cada vez mais frequente de explosivos improvisados, emboscadas a militares e ataques a campos de deslocados internos. A crise humanitária agrava-se sem que isso mobilize uma resposta global proporcional.
A omissão da imprensa global tem consequências reais: assuntos não reportados são assuntos ignorados, também pelas grandes potências, fóruns multilaterais e agências de ajuda. Em contraste, as guerras com maior cobertura mediática ganham espaço em agendas como as do G20, BRICS, ou mesmo das Nações Unidas.