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A crescente perplexidade em torno do silêncio do Presidente da República de Angola, João Lourenço, sobre escândalos de corrupção está gerando um intenso debate no país. Enquanto casos de desvios financeiros na Administração Geral Tributária (AGT) e no Instituto Nacional de Gestão de Bolsa de Estudos (INAGBE) vêm à tona, a confiança nas promessas de combate à corrupção parece vacilar.
A ministra das Finanças, Vera Daves, recentemente se desculpou publicamente em sessão parlamentar, após a revelação de que cerca de sete mil milhões de kwanzas foram desviados da AGT. Em sua declaração, ela assegurou que ações serão tomadas para evitar que escândalos semelhantes ocorram no futuro. “Pedimos desculpas aos cidadãos pelos danos causados por agentes públicos”, afirmou Daves, prometendo vigilância e medidas corretivas.
Entretanto, a insatisfação pública persiste. A “cruzada contra a corrupção” proclamada por Lourenço em 2017 é cada vez mais questionada, especialmente por líderes da oposição como Bendito Daniel, que critica a falta de métodos eficazes para combater esse fenômeno. Ele ressalta que a ausência de recursos e estratégias adequadas tem contribuído para a perpetuação da corrupção na administração pública.
Além dos milhões desviados na AGT, a situação no INAGBE levanta ainda mais preocupações, com a misteriosa perda de 22 milhões de euros. O jornalista Hossi Sonjamba expressa sua frustração: “A corrupção efetivamente venceu. A luta contra a corrupção é um nado morto”, refletindo um sentimento crescente de desesperança entre muitos cidadãos.
A ausência de uma resposta clara do Presidente Lourenço sobre esses escândalos tem gerado críticas. O jornalista Ilídio Manuel observa que a falta de ação sobre casos que mancham a reputação do governo sugere uma ineficácia na luta anticorrupção. “Ele parecia mais preocupado com os atos de corrupção da administração anterior, mas agora o silêncio persiste”, diz Manuel.
Essa falta de ação, segundo ele, levanta questões sobre a responsabilidade do Presidente em face de denúncias tão graves. O relatório do Tribunal de Contas, que chegou ao conhecimento de Lourenço, poderia servir como base para medidas concretas, mas a inação contínua deixa muitos a questionar a sinceridade da luta contra a corrupção em Angola.
Com as vozes da sociedade civil e da mídia exigindo respostas, a pressão sobre o governo aumenta. O futuro da governança em Angola pode muito bem depender da capacidade do Presidente em abordar essas questões de forma decisiva e transparente.