
Em meio a uma crise fiscal persistente e queda acentuada nas receitas públicas, o Presidente da República, João Lourenço, optou por intensificar as suas viagens ao exterior, acumulando gastos milionários sem resultados concretos para a economia nacional. A revelação surge através de uma investigação conduzida pela Angola Open Policy Initiative (AOPI) e divulgada em primeira mão pelo Novo Jornal.
Entre setembro de 2017 e maio de 2025, João Lourenço realizou 112 viagens oficiais a 46 países, totalizando 357 dias fora de Angola — quase um ano inteiro — e cerca de 8.568 horas em deslocações aéreas e protocolares. O estudo envolveu seis investigadores especializados em economia e políticas públicas, com destaque para Hélder Preza e Olívio N’Kilumbu, membros da AOPI desde 2013.
A investigação foca-se na qualidade da despesa pública associada às deslocações presidenciais, especialmente tendo em conta o discurso feito pelo próprio Presidente em 2018, no qual prometia usar a diplomacia como ferramenta para atrair 10 mil milhões de dólares em investimento estrangeiro. Porém, os dados mostram o oposto: em 2023, Angola registou uma saída líquida de 2 mil milhões de dólares, com investimentos no sector não-petrolífero quase insignificantes — apenas 124 milhões de dólares, o que corresponde a 0,015% da meta prometida.
Apesar das constantes participações em fóruns como Davos, BRICS, ONU, e visitas a países como Estados Unidos, China, Rússia e França, os ganhos económicos são praticamente inexistentes. Segundo Hélder Preza, “a fuga de capitais e o fraco desempenho fora do sector petrolífero demonstram o fracasso da diplomacia presidencial em atingir os seus objetivos económicos”.
João Lourenço defendeu em 2019 que “os ganhos nem sempre são imediatos ou mensuráveis”, mas o relatório da AOPI afirma que até agora, os efeitos das viagens oficiais não se refletem na vida dos angolanos. A organização defende maior transparência e responsabilidade no uso dos recursos públicos, propondo que o retorno destas missões seja submetido a escrutínio público.
O relatório final com a estimativa dos custos totais das viagens presidenciais será divulgado nas próximas semanas, trazendo recomendações para uma política externa mais racional, transparente e ajustada às reais necessidades económicas do país.