
Em uma sessão marcada por revelações e tensão, o general Leopoldino Fragoso do Nascimento, conhecido como “Dino”, afirmou nesta quarta-feira, 4 de junho, em tribunal, que foi o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, quem o convidou para integrar o processo de reestruturação da China International Fund (CIF) uma empresa que, segundo ele, teve papel fundamental na reconstrução do país após o conflito armado.
O general “Dino”, uma figura central no círculo de confiança do antigo presidente José Eduardo dos Santos, está entre os principais arguidos no caso que envolve suspeitas de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro relacionadas à Sonangol, à CIF e a várias altas figuras do antigo regime. Na audiência de ontem, ele foi ouvido ao lado do general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, o “Kopelipa”, outro implicado no processo.
Uma ligação direta com o topo do poder
Segundo o depoimento de “Dino”, que em 2002 comandava o centro de comunicações fixo da Presidência, sua participação na reestruturação da CIF ocorreu em 2016, quando recebeu a missão da Casa de Segurança do Presidente para ajudar na regularização dos projetos da empresa em Angola, que estavam “abandonados”. O ex-vice-presidente Manuel Vicente, segundo “Dino”, foi o coordenador dessa iniciativa, responsável por manter a relação estratégica com a China.
Em 2016, ele integrou uma delegação liderada por figuras como Francisco de Lemos, ex-presidente do conselho de administração da Sonangol, para uma viagem a Singapura com o objetivo de reativar os investimentos da CIF no país.
Conflitos e controvérsias no processo
Durante o interrogatório, “Dino” negou ter conhecimento sobre a criação da empresa China Sonangol International, ligada ao caso. Em 2020, as autoridades recuperaram para o Estado angolano vários bens ligados à CIF, incluindo fábricas, imóveis e outros ativos valiosos.
Já “Kopelipa” afirmou que aceitou colaborar com a justiça, entregando propriedades da CIF, mas mencionou estar atento para evitar futuros desentendimentos, especialmente com a parte chinesa, que teria apresentado uma queixa contra ele por ter cedido 40% dos bens.
Uma procuração apresentada no tribunal indica que “Dino” conferiu poderes a “Kopelipa” para transferir ao Estado 60% das ações da IF – Investimentos Financeiros.
O silêncio de Manuel Vicente
Curiosamente, Manuel Vicente não figura entre os arguidos, nem entre os 38 declarantes do processo, apesar de seu nome aparecer em diversas citações relacionadas à CIF. O ex-vice-presidente, que gozou de imunidade após deixar o cargo, enfrenta ainda outro processo-crime em paralelo.
Audiência com acesso restrito
A sessão desta quinta-feira teve um momento controverso quando a imprensa foi inesperadamente retirada da sala durante o interrogatório de “Dino”, sem que uma justificativa oficial fosse fornecida, deixando a cobertura jornalística limitada e aumentando o suspense em torno do julgamento.