
Um cenário alarmante envolvendo crianças em situação de vulnerabilidade está a mobilizar autoridades em Luanda. A Administração Municipal da Maianga abriu uma investigação a um casal suspeito de recorrer a menores para mendicidade nas ruas da capital, acendendo alertas sobre possíveis casos de exploração infantil camuflados sob a pobreza extrema.
A suspeita ganhou força após técnicos da área de ação social, durante uma ronda de rotina, abordarem um casal acompanhado de uma criança de três anos. Segundo denúncias, os mesmos são vistos com frequência em diferentes pontos da cidade a pedir esmola na companhia de três menores com idades entre 3 e 7 anos.
Crianças desaparecidas e contradições no relato
No momento da abordagem, apenas uma das três crianças estava com o casal. Questionados sobre o paradeiro das outras duas, os supostos responsáveis alegaram não saber onde se encontravam. A mulher, identificada como Eva, afirmou que vivem nas ruas há cinco meses devido à falta de meios para pagar renda. Contudo, também declarou possuir uma habitação no bairro Dimuca, Município do Sambizanga.
Diante da contradição, a Administração da Maianga solicitou apoio da Administração do Sambizanga para verificar a veracidade da informação. Uma equipa técnica deslocou-se à área indicada, percorrendo várias zonas, incluindo os arredores do mercado do Calussinga. Porém, nenhuma morada associada ao casal foi encontrada.
Autoridades envolvidas e medidas em curso
De acordo com Delfina de Almeida, chefe da secção de família e igualdade de género, as inconsistências no relato e o desaparecimento das duas crianças motivaram o encaminhamento imediato do casal à 8.ª Esquadra da Polícia Nacional, no bairro Prenda, para aprofundamento das investigações.
As autoridades estão agora centradas em localizar as crianças desaparecidas, com o objetivo de retirá-las de potenciais situações de risco e garantir proteção em centros de acolhimento.
Um problema social com contornos criminais
O caso lança luz sobre uma realidade muitas vezes invisível nas grandes cidades: a utilização de menores em práticas de mendicidade, frequentemente encoberta por discursos de necessidade extrema. Embora a pobreza seja uma realidade dura, especialistas alertam que a instrumentalização de crianças para obter esmolas pode configurar crime, além de expô-las a graves riscos físicos e emocionais.
A Administração da Maianga garantiu que continuará a trabalhar em articulação com instituições públicas e organizações de proteção infantil, reforçando que a salvaguarda dos direitos da criança está acima de qualquer condição socioeconómica.