
O general reformado e antigo ministro de Estado, Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, fez declarações que voltam a agitar as águas da política e da justiça angolana. Durante a sua audição no tribunal, o ex-chefe da Casa Militar revelou que foi Manuel Vicente, antigo vice-presidente da República e então presidente do Conselho de Administração da Sonangol, quem liderou todas as operações financeiras do Estado envolvendo a empresa China International Fund (CIF).
Segundo Kopelipa, Manuel Vicente chefiou a delegação angolana enviada à China em 2004 com o objetivo de negociar acordos de cooperação com investidores chineses, tendo apresentado pessoalmente ao então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, o modelo de investimento proposto. Foi com base nesse programa que nasceram parcerias estratégicas que incluíram a criação da CIF Angola e da China Sonangol Internacional.
Kopelipa afirmou ainda que só tomou conhecimento da missão angolana na China após ter sido nomeado para dirigir o recém-criado Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN). Até então, garante, não havia qualquer envolvimento seu nas negociações ou nos pagamentos efetuados à CIF. “As operações financeiras estavam sob a alçada de Manuel Vicente, designado pelo Presidente para coordenar a Comissão de Cooperação entre Angola e a China International Fund Hong Kong”, declarou.
As declarações surgem num momento em que o país continua a enfrentar o escrutínio público sobre os megaprojetos de reconstrução nacional e a gestão dos recursos públicos durante os anos do “boom” petrolífero. A CIF, que durante muito tempo foi considerada um parceiro estratégico na reabilitação de infraestruturas, tem estado no centro de várias polémicas, incluindo alegações de má gestão e falta de transparência nas operações.
Ao destacar o papel de Manuel Vicente neste processo, Kopelipa parece traçar uma linha clara entre as responsabilidades políticas e operacionais da altura, tentando isentar-se de decisões-chave que moldaram os rumos de grandes investimentos do Estado.
A justiça continua a reunir peças para compreender a teia de interesses e decisões que marcaram essa fase da história económica do país — uma história cujos protagonistas estão, agora, a falar.