
Numa altura em que a inflação global abranda, mas a incerteza económica persiste, o Banco Nacional de Angola (BNA) optou por manter firme a sua política monetária. A taxa básica de juros continuará fixada nos 19,5%, uma decisão que poderá ser vista por uns como prudente, por outros como um travão à retoma económica.
A decisão foi tomada durante a 123.ª Reunião Ordinária do Comité de Política Monetária (CPM), realizada ontem em Luanda. Na mesma ocasião, foi também anunciado que as taxas da Facilidade Permanente de Cedência e de Absorção de Liquidez permanecem nos 20,5% e 17,5%, respetivamente.
Contudo, houve um ligeiro ajuste: o CPM decidiu reduzir as reservas remuneratórias obrigatórias em moeda nacional de 20% para 19%. A medida pretende aliviar ligeiramente a pressão sobre os bancos comerciais, incentivando a concessão de crédito num ambiente ainda desafiante.
“O cenário internacional continua instável e com potenciais impactos negativos sobre a nossa economia”, justificou o governador do BNA, Manuel Tiago Dias, ao anunciar as decisões. Apesar disso, realçou que a inflação nacional continua numa trajetória descendente, o que dá algum espaço para medidas de estímulo seletivas.
A posição do BNA surge numa altura em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa a sua previsão para o crescimento económico mundial em 2025 — agora estimado em 2,8%, abaixo dos 3,3% antecipados em janeiro. A inflação global, por sua vez, deverá recuar de 5,7% este ano para 4,3% no próximo, segundo o mesmo relatório.
Os mercados de energia refletem essa tendência: o preço médio do barril de petróleo caiu cerca de 7% entre março e abril, situando-se agora nos 66,46 dólares. Para Angola, cuja economia continua fortemente dependente das exportações petrolíferas, esta descida representa um fator de risco adicional.
Apesar do cenário de cautela, o crédito à economia em moeda nacional registou uma ligeira subida de 1,3% em abril, totalizando 6,31 biliões de kwanzas. Um sinal positivo, embora modesto, de que a atividade económica tenta manter-se ativa perante um quadro externo cada vez mais volátil.
Ao manter a taxa de juros, o BNA joga pelo seguro num contexto de fragilidade económica global, apostando na estabilidade como escudo contra riscos maiores. Mas com o crescimento ainda longe do desejado e a pressão sobre o consumo interno a persistir, a margem de manobra pode começar a apertar nos próximos meses.