
Uma criança de cinco anos foi diagnosticada com HIV-SIDA, alegadamente após receber transfusões sanguíneas no Hospital Geral do Moxico, situação que está a gerar consternação e indignação entre familiares e população local. A mãe do menor denuncia negligência médica, apontando falhas graves na segurança dos procedimentos clínicos realizados em 2023 naquela unidade sanitária.
Segundo o relato da mãe, antes do internamento, a criança não apresentava qualquer sintoma da doença nem havia qualquer histórico familiar que indicasse a presença do vírus. O pesadelo começou a 25 de maio de 2023, quando o menino deu entrada no hospital com um quadro clínico que exigiu internamento. No dia 27 de maio, os médicos comunicaram a necessidade urgente de uma transfusão de sangue. De forma insólita e preocupante, a mãe foi orientada a adquirir o sangue diretamente de uma enfermeira, sem passar pelo banco de sangue da instituição.
Após a transfusão, a criança teve alta no dia 30 de maio e permaneceu em casa por oito dias. Contudo, no dia 7 de junho, voltou a ser internada no mesmo hospital, e no dia seguinte, 8 de junho, foi submetida a uma nova transfusão, novamente mediada por uma enfermeira e paga fora dos canais institucionais normais.
Poucos meses depois, exames de rotina revelaram o inesperado: o menino estava infetado com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Desde então, a mãe iniciou uma luta por justiça, responsabilizando o hospital por alegada negligência médica e violação dos protocolos de segurança sanitária.
O diretor do Hospital Geral do Moxico, por sua vez, rebate as acusações e afirma que a mãe “não está a colaborar com as investigações” internas abertas para apurar os factos. Contudo, não negou que as transfusões ocorreram sob circunstâncias atípicas.
RISCO SISTÉMICO E FALHAS NO CONTROLO SANITÁRIO
O caso levanta preocupações mais amplas sobre o controlo de qualidade do sangue usado em transfusões em algumas unidades hospitalares do país, especialmente nas províncias com menor infraestrutura laboratorial. De acordo com especialistas em saúde pública, todo o sangue transfundido deve obrigatoriamente ser testado para HIV, hepatite e outras infeções, sendo proibida a comercialização informal de bolsas de sangue fora dos circuitos oficiais.
Caso seja provado que a infeção foi resultado direto da transfusão, o hospital poderá ser responsabilizado por negligência médica grave, abrindo margem para processos criminais e indenizações por danos irreparáveis à família da criança.
Organizações da sociedade civil e ativistas ligados à saúde infantil exigem uma investigação independente e transparente, com apoio do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Sangue, de forma a evitar que mais casos como este se repitam no país.