
Num país onde milhares de mulheres continuam a dar à luz fora dos hospitais, o eventual abandono das parteiras tradicionais poderá representar uma verdadeira tragédia silenciosa. Na província do Zaire, estas mulheres — muitas vezes o único recurso em zonas onde os serviços de saúde são quase inexistentes — ponderam abandonar a actividade, alegando falta de condições mínimas para continuar a prestar assistência às parturientes.
A denúncia parte de Anacatondo Carolina, coordenadora e formadora provincial da Associação das Parteiras Tradicionais no Zaire, que descreve um cenário preocupante. “Falta material básico, não há espaços apropriados para trabalhar, e muitas das nossas associadas estão a desistir por não conseguirem suportar mais estas dificuldades”, lamentou em declarações à Rádio Nacional de Angola.
As parteiras tradicionais continuam a ser essenciais em comunidades afastadas dos grandes centros, onde a presença de médicos é escassa ou mesmo inexistente. No entanto, enfrentam o abandono institucional e a degradação do reconhecimento social, apesar de serem responsáveis por milhares de nascimentos em zonas rurais.
As autoridades provinciais admitem as falhas e reconhecem a importância do trabalho prestado por estas mulheres. Luísa Sofia Gomes, directora do Gabinete Provincial da Acção Social, Família e Igualdade no Género, reconheceu que “as parteiras desempenham uma missão nobre nas comunidades” e garantiu que o Executivo está a tomar medidas para inverter a situação.
Durante a actual jornada dedicada às parteiras tradicionais, foram anunciadas formações de reciclagem em Banza Congo e no município do Soyo, marcadas para os dias 12 e 13 deste mês. A responsável assegurou que, nessa ocasião, será feita a entrega de kits de apoio, numa tentativa de aliviar as dificuldades enfrentadas e recuperar a confiança das profissionais.
Apesar das promessas, muitas continuam cépticas quanto à mudança real da sua condição. Sem políticas de apoio sustentadas, o risco de abandono da actividade permanece, e com ele, o aumento de partos inseguros e mortes evitáveis em zonas longínquas.